O Pássaro e o homem tem essências diferentes.
O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas; o pássaro vive
segundo a lei universal que faz girar os mundos.
Acreditar é uma coisa; viver conforme o que se
acredita é outra.
Muitos falam como o mar, mas vivem como os
pântanos.
Muitos levantam a cabeça acima dos montes; mas
sua alma jaz nas trevas das cavernas.
A civilização é uma arvore idosa e carcomida,
cujas flores são a cobiça e o engano e cujas frutas são a infelicidade e o
desassossego.
Deus criou os corpos para serem os templos das
almas. Devemos cuidar desses templos para que sejam dignos da divindade que
neles mora.
Procurei a solidão para fugir dos homens, de
suas leis, de suas tradições e de seu barulho. Os endinheirados pensam que o
sol e a lua e as estrelas se levantam dos seus cofres e se deitam nos seus
bolsos.
Os políticos enchem os olhos dos povos com
poeira dourada e seus ouvidos com falsas promessas.
Os sacerdotes aconselham os outros, mas não
aconselham a si mesmos, e exigem dos outros o que não exigem de si
mesmos.
Vã é a civilização. E tudo o que está nela é
vão.
As descobertas e invenções nada são senão
brinquedos com que a mente se diverte no seu tédio.
Cortar as distâncias, nivelar as montanhas,
vencer os mares, tudo isso não passa de aparências enganadoras, que não
alimentam o coração e nem elevam a alma.
Quanto a esses quebra-cabeças, chamados
ciências e artes, nada são senão cadeias douradas com os quais o homem se
acorrenta, deslumbrados com seu brilho e tilintar.
São os fios da tela que o homem tece desde o
inicio do tempo sem saber que, quando
terminar sua obra, terá construído a prisão
dentro da qual ficará preso.
Uma coisa só merece nosso amor e nossa
dedicação, uma coisa só... É o despertar de algo no fundo dos fundos da
alma.
Quem o sente não o pode expressar em palavras.
E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras.
Faço votos para que aprendas a amar as
tempestades em vez de fugir delas.
[Gibran Khalil Gibran]