domingo, 26 de junho de 2011

Causa e efeito

Quantas vezes bloqueamos a espontaneidade das crianças, esquecendo-nos do quanto isso nos doeu na nossa infância...

Quantas vezes exigimos mais maturidade dos adolescentes sem lembrarmos o que passamos quando nos exigiram isso...

Quantas vezes nos queixamos dos colegas de trabalho e não nos perguntamos se eles também têm queixas sobre nós...

Quantas vezes nos irritamos nas ruas sem percebermos que nossa irritação também causa mal aos outros...

Quantas vezes queremos implantar paz na família expressando-nos aos berros...

Quantas vezes esperamos dos nossos parceiros o que não estamos dispostos a dar-lhes...

Quantas vezes esperamos dos nossos filhos o que não demos aos nossos pais...

Quantas vezes esperamos dos nossos pais o que não damos aos nossos filhos...

Quantas vezes perdemos a paciência com idosos esquecendo que a velhice chega para todos...

Quantas vezes repelimos animais e nos comportamos como seres irracionais...

Quantas vezes pedimos aos amigos coisas que não gostaríamos que eles nos pedissem...

A maior parte da vida deixamos a Vida passar sem senti-la no coração...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Vivendo como as flores!

- Mestre, como faço para não me aborrecer?
Algumas pessoas falam demais, outras são ignorantes. Algumas são indiferentes.
Sinto ódio das que são mentirosas. Sofro com as que caluniam.

- Pois viva como as flores! - advertiu o Mestre.

- Como é viver como as flores? Perguntou o discípulo.

- Repare nestas flores, continuou o Mestre, apontando lírios que cresciam no jardim.
Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas.
Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas.

- É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora.
Isso é viver como as flores!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Deus

Por todos estes tempos, os sacerdotes vos têm falado de Deus.
E as suas palavras não foram além dos vossos ouvidos; e apenas o medo as gravou em vossa memória.

Assim, se algo eu vos quiser ensinar, devo falar-vos ao coração.


E como falar-vos de Deus.

Poderia eu tentar definir o Indefinível?

Se o tentasse, eis que a minha presunção seria maior que a minha ignorância; e é sabido que as duas andam sempre de mãos dadas.

Existe, acaso, algo mais difícil de explicar do que o que se sente?


Se não encontrais Deus dentro de vós, como farei para que O possais descobrir dentro de mim?

Ouvis, apenas, as minhas palavras.

E não vos posso mostrar o meu coração, por mais que o desnude ante vós.


Mas eu vos peço: fechai, por um momento, os vossos ouvidos para os ruídos do mundo, com os quais vos ensurdeceis.

Para que possais ouvir o vosso coração bater.

Pois aí descobrireis Deus: no som da vida.

Se, entretanto, cessarem as suas batidas, também aí estará Deus: no silêncio da morte.


Porque, na verdade, Deus está em toda parte.

E quando vos lançais à sua procura, apenas vos estais afastando da Sua consciência, que existe em vosso íntimo.


Pois querei ver Deus; e pretendeis tocá-Lo.

Podeis, acaso, tocar o vosso amor ou a vossa saudade?

E, entretanto, não os sentis vivos em vós?


Para que possais não entender o Pai, ocultais a Sua verdadeira face.

E O procurais no céu, no alto das montanhas, no fundo dos mares;
E reclamais provas da Sua existência; e pretendeis ver a multiplicação dos pães e a transformação do vinho.

E não vedes os milagres que ocorrem ao vosso redor:
o botão que se transforma em flor, o ventre onde se renova a vida, o equilíbrio dos astros, o fluxo incessante das marés.

Assim, criais um deus à vossa semelhança.

E clamais, em altas vozes, que Deus vos abandonou; que vos entregou aos revezes da vida.
Quando, na verdade, os vossos sofrimentos são os instrumentos da Sua lembrança; e em todos eles podeis descobrir o Seu amparo.


Eu vos aconselho: deixai de procurar Deus.

Cuidai, antes, de cultivar os vossos sentimentos.

Amai aos vossos filhos, às vossas mulheres, aos vossos pais e amigos.

Aprendei, com o tempo, a amar aos que agora vos são indiferentes e, mais tarde, aos vossos inimigos.


Deixai que as flores, a poesia, a música e tudo aquilo que fala ao verdadeiro Eu vos emocione. Ao vos banhardes, recebei o contato da água como uma carícia; e ao vos deitardes, percebei como o vosso corpo recebe alegremente o repouso.


Vede a natureza não como algo que vos pertence e do qual podeis dispor, mas como o cenário da vossa vida; algo que vos foi dado como prova de amor, e ao qual deveis dedicar o mesmo amor.


Despertai para o sopro do vento, a luz do luar, o calor do sol e a dádiva da chuva.
Buscai a paz dentro de vós, para que possais distribuí-la entre aqueles que vos cercam.


Pois é assim que abrireis os olhos e ouvidos da vossa alma, e podereis encontrar Deus que vem ao vosso encontro todos os dias.

Gibran Kallil Gibran

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Arte de Servir

Toda a natureza é um serviço.
Serve a nuvem, serve o vento, serve a chuva.
Onde haja uma árvore para plantar, planta-a tu;
Onde haja um erro para corrigir, corrige-o tu;
Onde haja um trabalho e todos se esquivam, aceita-o tu.
Sê o que remove a pedra do caminho, o ódio entre os corações e as dificuldades do problema.
Há a alegria de ser puro e a de ser justo;
Mas há sobretudo, a maravilhosa, a imensa alegria de servir.

Que triste seria o mundo se tudo se encontrasse feito.
Se não existisse uma roseira para plantar, uma obra para iniciar!
Não te chamem unicamente os trabalhos fáceis.
É muito mais belo fazer aquilo que os outros recusam.
Mas não caias no erro de que somente há méritos nos grandes trabalhos;
Há pequenos serviços que são bons serviços; adornar uma mesa, fazer uma bandeja, arrumar os livros, pentear uma criança.
Aquele é o que critica; este é o que destrói; sê tu o que serve.

O servir não é faina de seres inferiores. Deus que dá os frutos e a luz, serve. Seu nome é: "Aquele que Serve".
Ele tem os olhos fixos em nossas mãos e nos pergunta cada dia:

A quem serviste hoje?
À árvore? A teu irmão? À tua mãe?
Gabriela Mistral