Por todos estes tempos, os sacerdotes vos têm falado de Deus.
E as suas palavras não foram além dos vossos ouvidos; e apenas o medo as gravou em vossa memória.
Assim, se algo eu vos quiser ensinar, devo falar-vos ao coração.
E como falar-vos de Deus.
Poderia eu tentar definir o Indefinível?
Se o tentasse, eis que a minha presunção seria maior que a minha ignorância; e é sabido que as duas andam sempre de mãos dadas.
Existe, acaso, algo mais difícil de explicar do que o que se sente?
Se não encontrais Deus dentro de vós, como farei para que O possais descobrir dentro de mim?
Ouvis, apenas, as minhas palavras.
E não vos posso mostrar o meu coração, por mais que o desnude ante vós.
Mas eu vos peço: fechai, por um momento, os vossos ouvidos para os ruídos do mundo, com os quais vos ensurdeceis.
Para que possais ouvir o vosso coração bater.
Pois aí descobrireis Deus: no som da vida.
Se, entretanto, cessarem as suas batidas, também aí estará Deus: no silêncio da morte.
Porque, na verdade, Deus está em toda parte.
E quando vos lançais à sua procura, apenas vos estais afastando da Sua consciência, que existe em vosso íntimo.
Pois querei ver Deus; e pretendeis tocá-Lo.
Podeis, acaso, tocar o vosso amor ou a vossa saudade?
E, entretanto, não os sentis vivos em vós?
Para que possais não entender o Pai, ocultais a Sua verdadeira face.
E O procurais no céu, no alto das montanhas, no fundo dos mares; E reclamais provas da Sua existência; e pretendeis ver a multiplicação dos pães e a transformação do vinho.
E não vedes os milagres que ocorrem ao vosso redor: o botão que se transforma em flor, o ventre onde se renova a vida, o equilíbrio dos astros, o fluxo incessante das marés.
Assim, criais um deus à vossa semelhança.
E clamais, em altas vozes, que Deus vos abandonou; que vos entregou aos revezes da vida.
Quando, na verdade, os vossos sofrimentos são os instrumentos da Sua lembrança; e em todos eles podeis descobrir o Seu amparo.
Eu vos aconselho: deixai de procurar Deus.
Cuidai, antes, de cultivar os vossos sentimentos.
Amai aos vossos filhos, às vossas mulheres, aos vossos pais e amigos.
Aprendei, com o tempo, a amar aos que agora vos são indiferentes e, mais tarde, aos vossos inimigos.
Deixai que as flores, a poesia, a música e tudo aquilo que fala ao verdadeiro Eu vos emocione. Ao vos banhardes, recebei o contato da água como uma carícia; e ao vos deitardes, percebei como o vosso corpo recebe alegremente o repouso.
Vede a natureza não como algo que vos pertence e do qual podeis dispor, mas como o cenário da vossa vida; algo que vos foi dado como prova de amor, e ao qual deveis dedicar o mesmo amor.
Despertai para o sopro do vento, a luz do luar, o calor do sol e a dádiva da chuva.
Buscai a paz dentro de vós, para que possais distribuí-la entre aqueles que vos cercam.
Pois é assim que abrireis os olhos e ouvidos da vossa alma, e podereis encontrar Deus que vem ao vosso encontro todos os dias.
Gibran Kallil Gibran
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