segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O Homem e o Seu Caminho

O Homem abeirou-se do Sábio e perguntou-lhe

–- Como encontrarei a Luz no Caminho da minha Vida?


O Sábio respondeu-lhe:

–- No Caminho da tua Vida encontrarás três Portais. Lê as regras escritas em cada um deles e cumpre-as. E agora vai! Segue o teu Caminho!


O Homem seguiu o seu Caminho. Em breve deparou com um Portal onde estava escrito:

MUDA O MUNDO

O Homem pensou que, na verdade, se havia algumas coisas no Mundo que lhe agradavam, havia muitas outras que eram objeto do seu desagrado. E começou a sua primeira luta: os seus ideais, o seu ardor e o seu poder levaram-no a confrontar-se com o Mundo, para corrigir, para conquistar, para mudar a realidade de acordo com os seus desejos. Nisso encontrou o prazer e a volúpia do conquistador, mas não trouxe Paz ao seu coração. Conseguiu mudar algumas coisas, mas muitas outras resistiram aos seus propósitos.

O Sábio perguntou-lhe então:

–- Que aprendeste no teu Caminho?

O Homem respondeu:

–- Aprendi a distinguir entre o que está ao meu alcance e o que se lhe escapa, o que depende e o que não depende de mim.

O Sábio retorquiu:

–- Isso é bom. Usa as tuas capacidades para agires no que estiver ao teu alcance e esquece o que estiver para além delas

Pouco depois, o Homem encontrou o segundo Portal. Nele estava escrito:

MUDA OS OUTROS

O Homem pensou que, realmente, os outros tanto podiam ser fonte de alegria, de prazer ou de satisfação, como de dor, amargura ou frustração e rebelou-se contra tudo o que lhe pudesse desagradar nos outros. Tentou moldar as suas personalidades e corrigir os seus defeitos. Esta foi a sua segunda luta. Fê-lo com persistência, mas nunca conseguiu remover as suas dúvidas sobre a real eficácia dos seus esforços de mudar os outros.

O Sábio perguntou-lhe então:

—Que aprendeste no teu Caminho?

O Homem respondeu:

–- Aprendi que os outros não são a causa nem a fonte das minhas alegrias ou das minhas tristezas, da minha satisfação ou dos meus desaires. São apenas oportunidades para todos se me revelarem. É em mim que tudo tem raízes.

O Sábio retorquiu:

–- Tens razão. Os outros revelam-se-te na medida do que acordam em ti. Agradece aos que fazem vibrar em ti as cordas da Alegria e da Satisfação. Mas não odeies os que te causam sofrimento ou frustração, porque, através deles, a Vida ensina-te o que te falta aprender e qual o Caminho que ainda te falta percorrer.

Então o Homem encontrou o terceiro Portal, onde se lia:

MUDA-TE A TI PRÓPRIO

O Homem pensou que, se na realidade era ele próprio a fonte dos seus problemas, então era em si próprio que teria de trabalhar. Começou então a sua terceira luta. Tentou moldar o seu carácter, lutar contra as suas imperfeições, acabar com os seus defeitos, mudar tudo o que lhe desagradava em si próprio, tudo o que não correspondia ao seu ideal. Teve algum sucesso, mas também alguns fracassos e duvidou das suas reais capacidades.

O Sábio perguntou-lhe então:

–- Que aprendeste no teu Caminho?

O Homem respondeu:

–- Aprendi que há em mim aspectos que consigo melhorar e outros que não consigo alterar.

O Sábio retorquiu:

–- Isso é bom!

Mas o Homem prosseguiu:

–- Sim. Mas começo a ficar cansado de lutar contra tudo, contra todos, contra mim próprio. Isto nunca terá fim? Nunca terei descanso? Quero poder parar de lutar, desistir, abandonar tudo…

O Sábio prosseguiu:

–- Essa é a tua próxima lição. Mas antes de prosseguires, volta-te para trás e observa bem o Caminho que percorreste.

Olhando para trás, o Homem viu à distância o terceiro Portal e reparou que, no lado de trás, estava escrito:

ACEITA-TE A TI PRÓPRIO

O Homem surpreendeu-se por não ter visto a inscrição quando passara o Portal no sentido contrário e pensou que, quando se luta, fica-se cego para tudo o que esteja para além da luta. Reparou então em tudo o que deixara cair, que deitara fora, enquanto lutara contra si próprio: os seus defeitos, as suas sombras, os seus medos, os seus limites, tudo antigas preocupações suas. Aprendeu então a reconhecê-los, a aceitá-los, a conviver com eles. Aprendeu a amar-se a si próprio sem voltar a comparar-se com os outros, sem se julgar, sem se repreender.

O Sábio perguntou-lhe então:

– Que aprendeste no teu Caminho?

O Homem respondeu:

–- Aprendi que odiar ou repudiar uma parte de mim próprio é condenar-me a nunca estar de acordo comigo mesmo. Aprendi a aceitar-me a mim próprio, total e incondicionalmente.

O Sábio retorquiu:

—Isso é bom! Essa é a primeira regra da Sabedoria. Agora regressa ao segundo Portal.

Ao aproximar-se deste, o Homem leu, nas suas traseiras:

ACEITA OS OUTROS

Reparou então em todas as pessoas com quem tinha estado em toda a sua vida, quer nas que tinha amado ou com quem tinha tido amizade, quer nas que lhe tinham desagradado. Naqueles que tinha apoiado e naqueles contra quem tinha lutado. Mas a sua maior surpresa foi que se apercebeu que agora nem notava as suas imperfeições nem os seus defeitos, que antes tanto o incomodavam.

O Sábio perguntou-lhe então:

–- Que aprendeste no teu Caminho?

O Homem respondeu:

–- Aprendi que, estando em paz comigo mesmo, já nada me incomoda nos outros, nada neles temo. Aprendi a amar e a aceitar os outros, total e incondicionalmente.

O Sábio retorquiu:

–- Isso é bom! Essa é a segunda regra da Sabedoria. Regressa agora ao primeiro Portal.

Aproximando-se deste, o Homem leu a inscrição:

ACEITA O MUNDO

O Homem pensou que também não vira estas palavras quando ali passara no sentido contrário. Olhou à sua volta e reconheceu o Mundo que tentara conquistar, transformar, mudar. Ficou estupefacto pelo Brilho e pela Beleza de tudo, pela sua Perfeição. No entanto, era o mesmo Mundo de antes. Que mudara? O Mundo ou a sua percepção dele?

O Sábio perguntou-lhe então:

–- Que aprendeste no teu Caminho?

O Homem respondeu:

–- Aprendi que o Mundo é o espelho da minha alma. Que a minha alma realmente não pode ver o Mundo, que se vê a si própria nele. Quando a minha alma está alegre, o Mundo parece-lhe alegre. Quando está triste, assim lhe parece o Mundo. O Mundo em si não é alegre nem triste: Está lá. Existe, é tudo. Não era o Mundo que me perturbava, mas a ideia que eu tinha dele. Aprendi a aceitar o Mundo sem o julgar, a aceitá-lo total e incondicionalmente.

O Sábio retorquiu:

–- Essa é a terceira regra da Sabedoria! Estás agora em consonância contigo próprio, com os outros e com o Mundo.

Um profundo sentimento de Paz, de Serenidade, de Plenitude, encheu o Homem. Dentro dele, o Silêncio substituiu todo o fragor das lutas que travara.

E então o Sábio concluiu:

–- Agora, estás pronto para, quando chegar o momento, passares em paz o último e desconhecido Portal, aquele que vai do Silêncio da Plenitude para a Plenitude do Silêncio.

Adaptação de texto de autor anônimo (blogue Southern Knight.)

Rui Bandeira - freemason 

domingo, 2 de agosto de 2020

Certidão de nascimento da Maçonaria


Para se falar na Origem Documentada da Maçonaria, foi preciso fazer este giro pelos arraiais da Maçonaria Mística. E depois demonstrar que até ao ano 1000, o que servia de proteção, como à Casa e ao Lar do homem – era a Madeira. E que a profissão que predominava e sobressaia, era a de Carpinteiro e Marceneiro. Tanto era verdade, que as primitivas Organizações – as Guildas – eram compostas por homens que praticavam estas duas Antigas Profissões.

Com o advento das Construções de Pedras e Alvenarias, começa a florescer e a se destacar outra profissão – a dos Canteiros, Entalhadores. Isto começou a acontecer a partir do século XII. Grandes quantidades de guerreiros, seguiram na Primeira Cruzada, rumo à Cidade Santa de Jerusalém, que estava nas mãos dos Sarracenos, dos Infiéis. Nas Estradas precárias da Europa, grupos de Salteadores e Bandoleiros cresciam em número e em audácia. As Propriedades do começo do 1° século do 2° milénio, eram atacadas por hordas de famintos e estrangeiros. Daí a necessidade de se erguerem muralhas, fortalezas para proteger os Burgos e os seus proprietários, famílias e servos.

O Cristianismo estava em pleno progresso. Povos e mais povos eram catequizados pelos Soldados de Cristo – isto é, Bispo de grandes capacidades de catequeses. E a Igreja ao receber Reis e a Nobreza, nas suas fileiras, passou a contar, também, com uma ajuda financeira muito grande dos seus novos Fiéis. E com dinheiro faz-se muitas coisas. Então aqueles feios amontoados de madeira sujeitos ao fogo e aos raios e outros fenómenos da natureza, começavam a dar lugar às Grandes Catedrais de Pedras, como mostramos logo no início deste trabalho. Entre os anos de 1100 e 1300, milhares de Igrejas, Catedrais, Mosteiros, conventos, etc., foram erguidos na Europa. Para dar conta de tanto Trabalho, uma leva de homens foi-se especializando na arte de Construir. Uma Arte Antiga, mas pouco divulgada. Essa leva de Profissionais de Pedra, precisava de se organizar. Precisavam de um Estatuto. Precisavam de um espaço só seu. Foi então que Doze Freemasons (Pedreiro especializados em trabalhar na Pedra Franca), liderados por Henry Yevele, é bom guardar bem esse nome – Henry Yevele, nasceu em 1320 e morreu no ano de 1400 – foram até à Prefeitura de Londres, levando um esboço de um Estatuto do Trabalhador da Pedra e, numa audiência com o Alderman (Prefeito) e os Edis, apresentaram o seu esboço de Estatuto, onde se previa, para além da Obediência às autoridades locais, também uma fidelidade (quase canina), ao Rei e à Religião Vigente, e, ainda, um pedido para que as suas reuniões fossem fechadas, sem a presença de pessoas que não estivessem ligadas a ela.

Estes 12 homens saíram dali, do local onde está Igreja, Antiga Guilda – desta Guildhall, no dia 2 de Fevereiro de 1356. É bom repetir – 2 de Fevereiro de 1356.

Aqui está o Berço, o Dia, o Mês e o Ano do Nascimento da Maçonaria Documentada, enquanto não apresentarem outro Documento, confiável, mais antigo. Este Documento que se encontra ainda hoje, na Biblioteca da Prefeitura de Londres, levará a glória e terá o privilégio de ser o Documento Maçónico mais Antigo.

Mas para que não surja ou permaneça nenhuma dúvida, segundo o pesquisador da Quatuor Coronati, o Irmão G. H. T. French:

“O Primeiro Código ou Regulamento dos Maçons da Inglaterra, é datada de 2 de Fevereiro de 1356, quando, como resultado da disputa entre Carvoeiros e Maçons, Pintores, Doze Mestres de uma Obra, representando aquele ramo da Arte de Construir, foram até ao Prefeito e Edis de Londres, na sede da Prefeitura e obtiveram uma Autorização Oficial, para que fizessem um Código e um Regulamento Interno, para a Instalação de uma Sociedade e, acabar, de vez, com a disputa e, também, para que de uma forma geral, ajudasse nos Trabalhos. O Preâmbulo do Código, confirma que aqueles homens foram lá, realmente juntos; porque o seu Ofício, até então, não tinha sido regulamentado, de nenhuma forma pelo Governo do Povo, como já acontecia com outras Profissões”.

Esta Sociedade dos Maçons (The Fellowship of Masons), durou, ou prevaleceu sozinha durante 20 anos – até 1376, quando foi fundada a Companhia dos Maçons de Londres.

Curiosamente, a primeira Regra desse Regulamento, regido naquela ocasião, como objetivo, da “Delimitação em Disputa”, quando estabelecida “que, muitos homens da profissão, podiam trabalhar em qualquer serviço relacionado com a sua profissão, desde que fossem perfeitamente hábeis e conhecessem muito bem a profissão.”

Daí por diante, passaram a trabalhar segundo este Código. E muitos outros foram surgindo, formando o que chamamos de Old Charges, ou Constituições Gótica

Autor Desconhecido -freemason