quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Meu Deus...


Ajuda-me a dizer a palavra da verdade na cara dos fortes e a não mentir para obter o aplauso dos débeis.
Se me dás dinheiro, não tomes a minha felicidade, e se me dás forças, não tires o meu raciocínio.
Se me dás êxito, não me tires a humildade; se me dás humildade, não tires a minha dignidade.
Ajuda-me a conhecer a outra face da realidade, e não me deixes acusar os meus adversários, apodando-os de traidores, porque não partilham meu critério.
Ensina-me a amar os outros como amo a mim mesmo e a julgar-me como o faço com os outros.
Não me deixes embriagar com o êxito, quando o consigo, nem a desesperar, se fracasso.
Sobretudo, faz-me sempre recordar que o fracasso é a prova que antecede o êxito.
Ensina-me que a tolerância é o mais alto grau da força e que desejo de vingança é a primeira manifestação da debilidade.
Se me despojas do dinheiro, deixe-me a esperança, e se me despojas do êxito, deixe-me a força de vontade para poder vencer o fracasso.
Se me despojas do dom da saúde deixa-me a graça da fé. 
Se causo dano a alguém, da-me a força da desculpa, e se alguém me causa dano, da-me a força do perdão e da clemência.
Meu Deus...  se me esquecer de Ti...
Tu não Te esqueças de mim!
Mahatma Gandhi

Desconvite

Depois de convidado para ser patrono dos formandos dos Cursos de Administração, Jornalismo e Turismo 2005-2 da Universidade Estácio de Sá de Santa Catarina, o Professor Rubens de Oliveira recebeu uma mensagem eletrônica desconvidando-o, de forma cortês, pelo fato dele ter contribuído com pequena quantia de dinheiro para as festividades.

Em resposta, o desconvidado aceita o desconvite e desanca os convidantes.

Como é atual essa história de paraninfo e dinheiro, de forma expressa ou implícita, vale a pena ler a troca de correspondências entre os estudantes e o mestre desconvidado

E-MAIL DA COMISSÃO DE FORMATURA:

Excelentíssimo Dr. Professor Rubens Araújo de Oliveira

Assunto: Desconvite Patrono Estácio Data: 02/12/2005

Nós da comissão de formatura 2005/2 dos cursos de Administração, Turismo, Jornalismo e GSI da faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina, vimos por intermédio desta, comunicá-lo de uma situação que nos deixa muito constrangidos e de certo modo frustrados: Há alguns meses, em visita pessoal entre os membros da comissão de formatura a Vossa Senhoria, solicitamos e fomos prontamente atendidos e correspondidos na solicitação do convite, que muito nos honraria para homenageá-lo como Patrono das turmas acima mencionadas.

Até então, também foi abordado a possibilidade de um auxílio para amenizar os custos referentes à formatura.

Hoje pela manhã, fomos informados formalmente que o auxílio que poderia ser repassado aos formandos seria de R$ 1.000,00, que entendemos que esteja dentro das suas atuais possibilidades financeiras.

Ao repassar esta informação, a comissão e os demais formandos ficaram em uma situação delicada em face da dificuldade em completar o orçamento.

Os mesmos reagiram e sugeriram o auxílio de outra pessoa, que era também cogitado a ser homenageado, cujo valor disponibilizado amortizará o custo relativo ao local da colação de grau, pois contávamos com a disponibilidade do novo auditório da Estácio. Então, diante desta situação extremamente complicada, nós, da comissão, acatamos o que a maioria dos formandos optou, que é de homenagear como Patrono a outra pessoa que fará uma contribuição mais elevada.

Gostaríamos de agradecer o aceite e o comprometimento, nos desculpar pela alteração e pelo não cumprimento do convite que fora gentilmente aceito pelo senhor, mas diante dos fatos, a maioria decidiu que seria mais justo homenagear a pessoa que se propôs a fazer a maior contribuição para com os formandos.

Ficamos no aguardo de um retorno do recebimento deste.

Atenciosamente,

Comissão de formatura 2005/2


RESPOSTA DO PROFESSOR:

Prezados Acadêmicos da Comissão de Formatura dos Cursos de Administração, Jornalismo e Turismo 2005-2,

Vocês não devem se sentir constrangidos. Frustrados, sim; constrangidos, nunca! Quem sabe este constrangimento não se trata de vergonha! Ou falta de caráter! Ou ainda falta de ética! Entendo que estou \"desconvidado\" para ser Patrono. Em minha vida de quase 30 anos como professor, devo ter sido patrono, paraninfo, nome de turma e homenageado - dezenas de vezes. Jamais imaginei que formandos convidassem e \"desconvidassem\" patronos por dinheiro! Enfim, sempre há uma primeira vez para tudo. Se eu utilizasse a mesma moeda (literalmente) é uma pena não ter sido comunicado antes... Neste caso, por idêntico critério não teria pago minha parte como \"patrono\" na última festinha de confraternização dos formandos.

Meus queridos ex-futuros afilhados: Eu é que me sinto constrangido. Decepcionado. Surpreso. Triste, mesmo! Constrangido porque pensei que o convite realizado fosse uma homenagem ao Ex-Diretor Geral da Estácio pela sua capacidade de administrar e levar adiante um projeto que em cinco anos tornou-se a maior escola de administração de SC.

Todos os cursos que ora estão se formando obtiveram a nota máxima de avaliação do MEC. Patrono é isso: uma pessoa que os formandos entendam deva ser exemplo na área de atuação dos cursos.

Decepcionado porque pensei que nossos alunos honrassem o título de Bacharel após quatro anos  de muita de luta e sacrifício. Patrono é isso: uma pessoa que dignifica a profissão. Surpreso porque jamais imaginei ter sido \"comprado\" como Patrono. Isto é, fui \"eleito? pelos formandos somente porque iria dar dinheiro para a formatura. Patrono não é isso. Patrono não se vende.

Triste porque vejo que não consegui - após quatro anos de curso superior - mudar os valores de alguns alunos da Estácio SC. Patrono é isso: uma pessoa que possui valores que prezam pela ética, moral, honra e palavra.

Sinto-me aliviado. Dormirei melhor...

Não consegui comprá-los por R$ 1.000,00. Obviamente a honraria de ser patrono vale muito mais que isso. Tivesse eu as qualidades de um patrono acima citadas - talvez me sentisse \"enojado\" com a situação. Como não as possuo, sinto-me aliviado em ter poupado um dinheirinho que seria gasto com pessoas das quais me envergonho ter sentido alguma consideração de relacionamento.

Assim sendo, e como não resta alternativa, com muita alegria aceito o \"desconvite\".

Entendo que outros formandos não devem compartilhar da mesma opinião dessa Comissão. A estes desejo sucesso e sorte.

À Comissão de Formatura e aos outros que trocaram o patrono por dinheiro o meu desprezo. Seguramente a vida lhes ensinará o que a faculdade não conseguiu!

Por último, desejo a todos a felicidade da escolha de um Patrono bem rico! Que ele possa pagar todas as despesas e contas... Seguramente a maior qualidade do homenageado!

Que tenham uma excelente formatura.

Estarei lá, presente, na qualidade de professor da Estácio.

Digam ao acadêmico orador que, em seu discurso, não fale em qualidades dignas do ser humano, muito menos em decência, honra, moral e ética. Se assim o fizer, irei aparteá-lo e chamá-lo de mentiroso!

Atenciosamente,

Prof. RUBENS OLIVEIRA, Dr. Ex-futuro Patrono dos Cursos de Administração, Jornalismo e Turismo da Estácio de SC.

O Discurso fúnebre de Marco Antonio em homenagem a César.


“Amigos, romanos, cidadãos dêem-me seus ouvidos. 
Vim para enterrar Cezar, não para louvá-lo. 
O bem que se faz é enterrado com nossos ossos, que seja assim com Cezar.
O nobre Brutus disse a vocês que Cezar era ambicioso. 
E se é verdade que era, a falta era muito grave, e Cezar pagou por ela com sua vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. 
Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados. 
Venho falar no funeral de Cezar. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. 
Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E, Brutus é um homem honrado.
Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma que, para serem libertados, encheram os cofres de Roma. Isto parecia uma atitude ambiciosa de Cezar? 
Quando os pobres sofriam, Cezar chorava. 
Ora, a ambição torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, Brutus diz que ele era ambicioso. E, Brutus é um homem honrado.
Vocês todos viram que na Festa de Lupercal, eu, por três vezes, ofereci-lhe uma coroa real, a qual ele por três vezes recusou. Isto era ambição? 
Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E, Brutus, todos nós sabemos, é um homem honrado.
Eu não falo aqui para discordar do que Brutus falou. mas eu tenho que falar daquilo que eu sei. 
Vocês todos já o amaram e tinham suas razões para amá-lo. Qual a razão que os impede agora de homenageá-lo na morte?”

Nesse momento, Marco Antônio faz uma pausa no discurso, e as pessoas do povo começam a refletir sobre o que ele disse, e a questionar se Cezar tinha afinal merecido a morte que teve. 


Passado este interlúdio, retornou Marco Antônio a falar.

“Ontem, a palavra de Cezar seria capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aqui morta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar seus corações e mentes para o motim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, como sabem, são homens honrados. 
Não vou falar mal deles. 
Prefiro falar mal do morto. 
Prefiro falar mal de mim e de vocês do que desses homens honrados.
Mas eis aqui um pergaminho com o selo de Cezar. Eu o achei no seu armário. 
É o seu testamento. 
Quando os pobres lerem o seu testamento (porque, perdoem-me, eu não pretendo lê-lo) eles se arrojarão para beijar os ferimentos de Cezar e molhar seus lenços no seu sagrado sangue.”

O povo reclama de Marco Antônio e exige que ele o leia.

“Tenham paciência amigos, mas eu não devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou de ferro e sim humanos.
 E, sendo humanos, ao ouvir o testamento de Cezar, vão se inflamar e ficarão furiosos. 
É melhor que vocês não saibam que são os herdeiros de Cezar! Pois se souberem… o que vai acontecer?
Então vocês vão me obrigar a ler o testamento de Cezar? 
Então façam um círculo em volta do corpo e deixe-me mostra-lhes Cezar morto, aquele que escreveu em vida esse testamento.
Cidadãos, se vocês tem lágrimas, preparem-se para soltá-las. 
Vocês todos conhecem este manto. Veja, foi neste lugar que a faca de Cassius penetrou. Através deste outro rasgão, Brutus, tão querido de Cezar, enfiou a sua faca, e, quando ele arrancou a sua maldita arma do ferimento, vejam como o sangue de Cezar escorreu.
E Brutus, como vocês sabem, era o anjo de Cezar. 
Oh! Deuses, como Cezar o amava. O golpe de Brutus foi, de todos, o mais brutal e o mais perverso. Pois, quando o nobre Cezar viu que Brutus o apunhalava, a ingratidão, mais que a força do braço traidor, parou seu coração. 
Oh! Que queda brutal meus concidadãos. 
Então eu e vocês e todos nós também tombamos, enquanto essa sanguinária traição florescia entre nós.
Sim, agora vocês choram. Percebo que sentem um pouco de piedade por ele. Boas almas. Choram ao ver o manto do nosso Cezar despedaçado. 
Bons amigos, queridos amigos, não quero questionar a revolta de vocês. Aqueles que praticaram esse ato são honrados.
Quais as queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. 
Mas, são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões. 
Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. 
Sou um homem simples e direto, que amo os meus amigos.”

Seguem-se novamente comentários das pessoas, já agora lamentando o assassinato e condenando os assassinos. Volta Marco Antônio.

“Aqui está o testamento, com o selo de Cezar. 
A cada cidadão ele deixou 75 dracmas. 
Mais, para vocês ele deixou seus bens. Seus sítios neste lado do Tibre, com suas árvores, seu pomar, para vocês e para os herdeiros de vocês e para sempre. 
Este era Cezar. Quando aparecerá outro como ele?”
Revoltada, a massa sai rumo às casas dos conspiradores para vingar Cezar.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O Lao-Yê e a Flor


Na cidade de Thai-Ouan, na China, vivia um velho Lao-Yê dotado de grande sabedoria.
Cumpre esclarecer que Lao-Yê é a designação dada na velha China, ao sacerdote que o povo respeita por seu saber e admira por suas virtudes.
Um dia, quando esse Lao-Yê se dirigia para o Templo, encontrou uma jovem que se ocupava em enfeitar com flores um ídolo de bronze.

- Que estás fazendo aí, minha filha? – indagou o sábio em tom carinhoso.

- Senhor – explicou a jovem – para exaltar Deus coloco flores em torno deste ídolo. Deus está no ídolo!

- Minha filha – tomou paciente o bom Lao=Yê – bem longo é o caminho do erro e ignorados são, por vezes, os atalhos que nos levam `a Verdade. Estás agora, sem querer, com a inexperiência da vida, invertendo o significado das coisas e alterando o sentido oculto dos símbolos. É absurdo enfeitar um ídolo com flores, pois Deus está mais nas flores que no ídolo!

E, depois de proferir tais palavras, partiu o sábio para o Templo onde se ocupava em ensinar aos moços piedosos, por meio de parábolas e alegorias, o caminho do Eterno Bem e da Eterna Verdade.
Quando o velho e judicioso Lao-Yê, algumas horas depois, voltou para a sua rústica morada, passou outra vez pela casa da jovem adoradora de ídolos e encontrou-a ocupada em uma estranha tarefa:
No alto de uma coluna havia colocado uma flor e, em volta da flor, procurava enfileirar vários ídolos.

-Estás vendo, mestre? – exclamou com entusiasmo, dirigindo-se ao sacerdote – aprendi a vossa profunda lição. Reparai: Agora são os ídolos que “enfeitam” a flor, pois Deus está mais nas flores que nos ídolos!

-Admiro a tua alma ingênua e simples – replicou o sábio, dobrando a sua fronte calva – Aprende, porém, a Verdade:
Sim, Deus está mais na flor que no ídolo; é preciso, entretanto, observar que Deus está mais na mulher que na flor.
Deus, ao criar a mulher, pensou nas flores e, por isso, na mulher vamos encontrar delicadeza, bondade e beleza! E ao cabo de breve pausa rematou:

-Retira dai essa flor, minha filha. Coloca-a em teus cabelo e deixa os ídolos em paz!
Mulher! És a fonte dos jardins, poço das águas que correm pelos campos.  
Malba Tahan