quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Discurso fúnebre de Marco Antonio em homenagem a César.


“Amigos, romanos, cidadãos dêem-me seus ouvidos. 
Vim para enterrar Cezar, não para louvá-lo. 
O bem que se faz é enterrado com nossos ossos, que seja assim com Cezar.
O nobre Brutus disse a vocês que Cezar era ambicioso. 
E se é verdade que era, a falta era muito grave, e Cezar pagou por ela com sua vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. 
Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados. 
Venho falar no funeral de Cezar. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. 
Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E, Brutus é um homem honrado.
Ele trouxe muitos prisioneiros para Roma que, para serem libertados, encheram os cofres de Roma. Isto parecia uma atitude ambiciosa de Cezar? 
Quando os pobres sofriam, Cezar chorava. 
Ora, a ambição torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, Brutus diz que ele era ambicioso. E, Brutus é um homem honrado.
Vocês todos viram que na Festa de Lupercal, eu, por três vezes, ofereci-lhe uma coroa real, a qual ele por três vezes recusou. Isto era ambição? 
Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E, Brutus, todos nós sabemos, é um homem honrado.
Eu não falo aqui para discordar do que Brutus falou. mas eu tenho que falar daquilo que eu sei. 
Vocês todos já o amaram e tinham suas razões para amá-lo. Qual a razão que os impede agora de homenageá-lo na morte?”

Nesse momento, Marco Antônio faz uma pausa no discurso, e as pessoas do povo começam a refletir sobre o que ele disse, e a questionar se Cezar tinha afinal merecido a morte que teve. 


Passado este interlúdio, retornou Marco Antônio a falar.

“Ontem, a palavra de Cezar seria capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aqui morta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar seus corações e mentes para o motim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, como sabem, são homens honrados. 
Não vou falar mal deles. 
Prefiro falar mal do morto. 
Prefiro falar mal de mim e de vocês do que desses homens honrados.
Mas eis aqui um pergaminho com o selo de Cezar. Eu o achei no seu armário. 
É o seu testamento. 
Quando os pobres lerem o seu testamento (porque, perdoem-me, eu não pretendo lê-lo) eles se arrojarão para beijar os ferimentos de Cezar e molhar seus lenços no seu sagrado sangue.”

O povo reclama de Marco Antônio e exige que ele o leia.

“Tenham paciência amigos, mas eu não devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou de ferro e sim humanos.
 E, sendo humanos, ao ouvir o testamento de Cezar, vão se inflamar e ficarão furiosos. 
É melhor que vocês não saibam que são os herdeiros de Cezar! Pois se souberem… o que vai acontecer?
Então vocês vão me obrigar a ler o testamento de Cezar? 
Então façam um círculo em volta do corpo e deixe-me mostra-lhes Cezar morto, aquele que escreveu em vida esse testamento.
Cidadãos, se vocês tem lágrimas, preparem-se para soltá-las. 
Vocês todos conhecem este manto. Veja, foi neste lugar que a faca de Cassius penetrou. Através deste outro rasgão, Brutus, tão querido de Cezar, enfiou a sua faca, e, quando ele arrancou a sua maldita arma do ferimento, vejam como o sangue de Cezar escorreu.
E Brutus, como vocês sabem, era o anjo de Cezar. 
Oh! Deuses, como Cezar o amava. O golpe de Brutus foi, de todos, o mais brutal e o mais perverso. Pois, quando o nobre Cezar viu que Brutus o apunhalava, a ingratidão, mais que a força do braço traidor, parou seu coração. 
Oh! Que queda brutal meus concidadãos. 
Então eu e vocês e todos nós também tombamos, enquanto essa sanguinária traição florescia entre nós.
Sim, agora vocês choram. Percebo que sentem um pouco de piedade por ele. Boas almas. Choram ao ver o manto do nosso Cezar despedaçado. 
Bons amigos, queridos amigos, não quero questionar a revolta de vocês. Aqueles que praticaram esse ato são honrados.
Quais as queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. 
Mas, são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões. 
Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. 
Sou um homem simples e direto, que amo os meus amigos.”

Seguem-se novamente comentários das pessoas, já agora lamentando o assassinato e condenando os assassinos. Volta Marco Antônio.

“Aqui está o testamento, com o selo de Cezar. 
A cada cidadão ele deixou 75 dracmas. 
Mais, para vocês ele deixou seus bens. Seus sítios neste lado do Tibre, com suas árvores, seu pomar, para vocês e para os herdeiros de vocês e para sempre. 
Este era Cezar. Quando aparecerá outro como ele?”
Revoltada, a massa sai rumo às casas dos conspiradores para vingar Cezar.

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