terça-feira, 6 de julho de 2010

O louco


Me perguntas como me tornei um louco. Foi assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras haviam sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas.  Corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando:  "Ladrões, ladrões. Malditos ladrões!"

Homens e mulheres riam de mim e alguns corriam com medo para suas casas. Quando cheguei à praça do mercado, um menino trepado no telhado de uma casa gritou: "Você é um louco!"

Olhei para cima para vê-lo. O sol brilhou pela primeira vez em meu rosto descoberto. Pela primeira vez o sol beijava meu rosto nu, e minha alma se encheu de amor pelo sol, e nunca mais desejei usar máscaras.

Assim me tornei um louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha própria loucura. A liberdade da solitude e a segurança de não ser compreendido. Pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.
Gibran Khalil Gibran (1883 - 1931) 

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