domingo, 27 de fevereiro de 2011

Conto chinês


Por volta do ano 250 A.C, na China antiga, um príncipe da região norte do país estava às vésperas de ser coroado imperador mas, de acordo com a lei, deveria se casar. Diante disso,  resolveu fazer uma "disputa" entre as moças da corte ou quem quer que se achasse digna de sua proposta. 

No dia seguinte, anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e lançaria um desafio. 

Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe. Ao chegar em casa e relatar o fato à jovem, espantou-se ao saber que ela pretendia ir à celebração, e indagou incrédula: 

- Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes todas as mais belas e ricas moças da corte. Tire esta idéia insensata da cabeça; eu sei que você deve estar sofrendo, mas não torne o sofrimento uma loucura. E a filha respondeu: 

- Não, querida mãe, não estou sofrendo e muito menos louca, eu sei que jamais poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do príncipe, isto já me torna feliz. 

À noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as mais belas moças, com as mais belas roupas, com as mais belas jóias e com as mais determinadas intenções. Então, inicialmente, o príncipe anunciou o desafio:

Darei a cada uma de vocês, uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura imperatriz da China. A proposta do príncipe não fugiu às profundas tradições daquele povo, que valorizava muito a especialidade de "cultivar" algo, sejam costumes, amizades, relacionamentos, etc... 

O tempo passou e a jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que se a beleza da flor surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisava se preocupar com o resultado. Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentara, usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia nascido. Dia após dia ela percebia cada vez mais longe o seu sonho, mas cada vez mais profundo o seu amor. Por fim, os seis meses haviam passado e nada havia brotado. 

Consciente do seu esforço e dedicação, a moça comunicou à mãe que, independentemente das circunstâncias, retornaria ao palácio, na data e hora combinadas, pois não pretendia nada além de mais alguns momentos na companhia do príncipe. Na hora marcada estava lá, com seu vaso vazio, bem como todas as outras pretendentes, cada uma com uma flor mais bela do que a outra, das mais variadas formas e cores. Ela estava admirada, nunca havia presenciado tão bela cena. 

Finalmente chega o momento esperado e o príncipe observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a bela jovem como sua futura esposa. As pessoas presentes tiveram as mais inesperadas reações. Ninguém compreendeu porque ele havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado. Então, calmamente o príncipe esclareceu: 

- Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz. A flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sons do Silêncio

Certo dia um rei mandou o seu filho estudar no templo, com o objetivo de prepará-lo para ser um grande homem.

Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre mandou-o sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta. Quando o príncipe voltou ao templo, após um ano, o mestre pediu-lhe que descreve-se todos os sons que conseguira ouvir.

O príncipe disse: - Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na floresta, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus...
Quando terminou o seu relato, o mestre pediu ao o príncipe que voltasse à floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu à ordem do mestre, pensando: "Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta..."

Por dias e noites, ficou sozinho, ouvindo, ouvindo, ouvindo...mas, não conseguiu distinguir nada de novo, além daquilo que havia dito ao mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E quanto mais atenção prestava, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. Pensou: "Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse..."
Sem pressa, ficou ali, ouvindo, ouvindo, pacientemente. Queria ter a certeza de que estava no caminho certo.

Quando voltou ao templo, o mestre perguntou-lhe que mais conseguira ouvir.
Paciente e respeitosamente, o príncipe disse: - Mestre, quando prestei atenção, pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra, o som da floresta bebendo o orvalho da noite... O mestre sorrindo, acenou com a cabeça, em sinal de aprovação, e disse: - Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar um grande homem.

Aos Meus Filhos


Coube-me trazer-vos a este mundo:
Nos primeiros passos pela vida, remover as pedras do vosso caminho; e buscar ensinar-vos como remover as pedras que no futuro vos couberem.
Outra não é a função dos pais, pois cada pessoa tem o seu próprio caminho e as suas próprias pedras.

Assim, eis que não posso caminhar por vós. Porque necessitais tropeçar, para que possais aprender a erguer-vos; e sofrer, para que possais conhecer a felicidade.
Pois assim aconteceu e ainda acontece a vosso pai; e, antes dele, a todos os pais deste mundo, que um dia foram também filhos. E esta é a essência da vida, que se renova a cada momento.

É necessário que eu me conforme com a idéia de que não vos posso ter sempre entre os meus braços; de que não vos posso proteger, senão através do que vos puder ensinar.

E necessário que eu não vos veja apenas como partes do meu ser, mas como seres humanos; e, assim, merecedores do riso e do pranto. Mereceis ter as vossas próprias alegrias e as vossas próprias tristezas.
Pois não está em meu poder promove-las ou evitá-las, mas apenas compartilhar de ambas; festejar as vossas vitórias e reconfortar-vos nos fracassos, embora neles chore também o meu coração.

Não sei se vos faço entender o quanto vos amo.
Pode a roseira explicar a um botão como é a rosa, quando desabrocha?
Ou a borboleta transmitir à crisálida a sensação de voar?
Assim, como poderiam as minhas palavras explicar-vos algo que apenas experimentei ao vos ver nascer?

Sabei, entretanto, que sois partes de mim.
E os vossos risos, como as vossas lágrimas, ecoam em meu coração; e são, muitas vezes, a causa dos meus próprios risos e das minhas próprias lágrimas.
Acreditai que o meu maior sonho é ver realizados os vossos sonhos; e, assim como tendes as vossas esperanças, sois as minhas esperanças.

Um dia partireis, pois a vida vos reclama; e não é a mim que pertenceis, mas ao mundo e a vós mesmos. Pois ninguém pertence senão a seus próprios pensamentos e anseios.
Todavia deveis saber que sempre podereis retornar aos meus braços, como jamais vos afastareis do meu coração.

Porque não foi apenas o ser que eu vos dei, mas também o meu amor.
E, assim, não sois apenas os filhos do meu corpo, mas do meu verdadeiro Eu.

Mansour Chalitta

Altar Íntimo


"Temos um altar." - Paulo. HEBREUS, 13 :10.

Até agora, construímos altares em toda parte, reverenciando o Mestre e Senhor.  De ouro, de mármore, de madeira, de barro, recamados de perfumes, preciosidades e flores, erguemos santuários e convocamos o concurso da arte para os retoques de iluminação artificial e beleza exterior. 
Materializado o monumento da fé, ajoelhamo-nos em atitude de prece e procuramos a inspiração divina.

Realmente, toda movimentação nesse sentido é respeitável, ainda mesmo quando cometemos o erro comum de esquecer os famintos da estrada, em favor das suntuosidades do culto, porque o amor e a gratidão ao Poder Celeste, mesmo quando mal conduzidos, merecem veneração.

Todavia, é imprescindível crescer para a vida maior.
O próprio Mestre nos advertiu, junto à Samaritana, que tempos viriam em que o Pai seria adorado em espírito e verdade.  E Paulo acrescenta que temos um altar.

A finalidade máxima dos templos de pedra é a de despertar-nos a consciência.
O cristão acordado, porém, caminha oficiando como sacerdote de si mesmo, glorificando o amor perante o ódio, a paz diante da discórdia, a serenidade à frente da perturbação, o bem à vista do mal.

Não olvidemos, pois, o altar íntimo que nos cabe consagrar ao Divino Poder e à Celeste Bondade.

Comparecer, ante os altares de pedra, de alma cerrada à luz e à inspiração do Mestre, é o mesmo que lançar um cofre impermeável de trevas à plena claridade solar.
Se as ondas luminosas continuam sendo ondas luminosas, as sombras não se alteram igualmente.

Apresentemos, portanto, ao Senhor as nossas oferendas e sacrifícios em quotas abençoadas de amor ao próximo, adorando-o, através do altar do coração, e prossigamos no trabalho que nos cabe realizar.

C. Xavier

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Minha caminhada

Sei que na minha caminhada tenho um destino e uma direção, por isso devo medir meus passos, prestar atenção no que faço e no que fazem os que por mim também passam ou pelos quais passo eu...

Que eu não me iluda com o ânimo e o vigor dos primeiros trechos, porque chegará o dia em que os pés não terão tanta força e se ferirão no caminho e se cansarão mais cedo...

Todavia, quando o cansaço houver, que eu não me desespere e acredite que ainda terei forças para continuar, principalmente quando houver quem me auxilie...

É oportuno que, em meus sorrisos, eu me lembre de que existem os que choram, que, assim, meu riso não ofenda a mágoa dos que sofrem: por outro lado, quando chegar a minha vez de chorar, que eu não me deixe dominar pela desesperança, mas que eu entenda o sentido do sofrimento, que me nivela, que me iguala, que torna todos os homens iguais...

Quando eu tiver tudo, farnel e coragem, água no cantil, e ânimo no coração, bota nos pés e chapéu na cabeça, e, assim, não temer o vento
e o frio, a chuva e o tempo.
Que eu não me considere melhor do que aqueles que ficarão atrás, porque pode vir o dia em que nada terei mais para minha jornada e aqueles, que ultrapassei na caminhada, me alcançarão e também poderão fazer como eu fiz e nada de fato fazer por mim, que ficarei no caminho sem concluí-lo...

Quando o dia brilhar, que eu tenha vontade de ver a noite em que a caminhada será mais fácil e mais amena; quando for noite, porém e a escuridão tornar mais difícil a chegada, que eu saiba esperar o dia como aurora, e o calor como bênção...

Que eu perceba que a caminhada sozinho pode ser mais rápida, mas muito mais vazia...Quando eu tiver sede, que encontre a fonte no caminho, quando eu me perder, que ache a indicação, a seta, a direção...

Que eu não siga os que desviam, mas que ninguém se desvie seguindo os meus passos...Que a pressa em chegar não me afaste da alegria de ver as flores simples que estão a beira da estrada, que eu não perturbe a caminhada de ninguém, que eu entenda que seguir faz bem, mas que, às vezes, é preciso ter-se a bravura de voltar atrás e recomeçar e tomar
outra direção...

Que eu não caminhe sem rumo, que eu não me perca nas encruzilhadas, mas que eu não tema os que assaltam-me, os que embuçam, mas que eu
vá onde devo ir e, se eu cair no meio do caminho, que fique a lembrança
de minha queda para impedir que outros caiam no mesmo abismo...

Que eu chegue, sim, mas, ainda mais importante, que eu faça chegar
quem me perguntar, quem me pedir conselho, e acima de tudo, me seguir, confiando em mim !

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Encanto de Cada Momento


A vida lhe foi oferecida nessa espantosa sincronicidade do Universo, na qual você desenvolveu um verdadeiro triatlo com tantos milhões de outros concorrentes e se fez vencedor. Você é absolutamente único e constitui uma experiência que nunca mais será repetida.

Carrega no bojo da vida esse algo extraordinário que o fez vencer tantos milhões de indivíduos - quase a população de todos os países da Europa juntos - que com a mesma garra e vontade nadaram, correram e no supremo esforço de ganhar a vida perderam para você que fecundou o óvulo e se constituiu pessoa vitoriosa, premiada com a vida.

Está então no seu cerne esse extraordinário potencial de luta, de otimismo, de garra e de vencedor. Você possui essa força estupenda, raiz de sua verdadeira existência. Deus o fez gigante como seu representante na Terra para que tirasse da essência da vida essa força espantosa capaz de tudo enfrentar e tudo desenvolver. Ele lhe deu esse acreditar perene em suas possibilidades infinitas.

Busque com todas as suas forças essa verdade incontestável do divino que você é. E se você não acredita em você, acredite em Deus, que fez você à sua imagem e semelhança e proporcionou essa espantosa oportunidade de você exuberar diante da vida, vibrando a cada instante com toda a intensidade.

A vida é uma passagem gloriosa de uma oportunidade imperdível. Nada vale a pena se não se puder usufruí-Ia em todo o seu esplendor e encantamento, por isso pense longe, pense alto e dignifique seu direito de viver completo e completamente liberto.

Ele lhe deu o passaporte da vida e salvo-conduto pelo livre-arbítrio, por isso a felicidade existe e depende somente de você. Faça sua vida direcionada para a verdade e para a felicidade; afinal, a felicidade é química. Temos de trabalhar constantemente, levando nossa mente a se orientar no sentido de buscar sempre pensamentos que a otimizem.

A felicidade é algo que faz parte da embalagem da vida. Temos de fazer valer a vontade do Criador, que não quer ver sua obra máxima triste e derrotada. Ele o fez para ter saúde, sucesso, otimismo e felicidade. Ele o quer querido e alegre, saudável e feliz. Perceba o quanto você é bendito por ter sido escolhido para esta viagem sem par, capaz dos sentimentos mais puros e grandiosos.

Que por meio dessa reflexão você possa ter entendido sua força e suas perspectivas infinitas de uma vida plena e de como você é maravilhoso: Perceba a vida! Sinta-a presente em todo o seu corpo e tome conhecimento denso e profundo dela com essa fantástica experiência que está à sua frente agora...

Nada é mais importante que viver o momento presente intensamente, porque essa é a verdadeira vida. Comemore essa dádiva imensa de saúde, de sua encantadora família, de seus amigos. Pais valorizando seus filhos, essa magia da vida; os filhos concentrando em seus pais, fato primeiro da possibilidade dessa experiência de viver. A esposa saudando seu companheiro e valorizando sua existência. O marido saudando essa imensa força que recebe dela.

Veja quantas coisas boas já temos para agradecer e quantas outras maravilhosas ainda nos aguardam em cada alvorecer. Busque a felicidade! Como já dizia um poeta, talvez no século XIX: "Felicidade, árvore frondosa de dourados pomos. Existe, sim, mas nós nunca a encontramos porque ela está sempre apenas onde nós a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos...". Palavras sábias e encantadoras.

Então coloque a felicidade ao seu alcance e a saboreie na mais esplêndida conquista, a maior de toda a nossa vida. Dê-se conta desse privilégio e o use ao máximo. Não deixe nada para depois. O momento é sagrado e constitui a única maneira de se viver intensamente. O passado é algo que não mais existe - já se foi. Serve apenas como referência. Da mesma maneira, o futuro também não existe, pois quando ele passar pelo presente você estará ausente pensando no futuro. 

Muitas pessoas realmente não vivem, porque estão ausentes da vida que passa encantada à sua frente. O presente é uma dádiva de Deus. É o momento que espera ser vivido. Por isso não pense, faça! Por isso não pense, viva! Por isso não pense, curta! Não é uma discussão filosófica falar sobre a importância de se estar no presente vivendo o momento; é questão de inteligência, porque não existe outra forma de se viver realmente.

Então viva cada maravilhoso momento que lhe é oferecido, porque ele passará célere... 

Curta ao máximo, porque ele é sempre único. E sempre maravilhoso! Mergulhe em cada um deles intensamente, porque é a única possibilidade concreta que a vida lhe oferece. Viva intensamente esse momento grandioso que passa agora sobre sua cabeça! Respire fundo... Deixe-o penetrar pelos seus poros.

Não fique nunca à espera de momentos célebres, porque célebre é o momento.

N. Cobra 

Lenda do Xadrez


Conta-se que o jogo de xadrez foi inventado há 1550 anos por um hindu de nome Lahur Sessa.

Certa vez um sultão que vivia extremamente aborrecido ordenou que se organizasse um concurso, em que seus súditos apresentariam inventos para tentar distraí-lo.

Estava de passagem pelo reino um sábio de nome Lahur Sessa. Apresentou este ao sultão um jogo maravilhoso que acabara de inventar: o xadrez.

Ao tomar conhecimento do jogo, o rei ficou tão entusiasmado que ofereceu a Sessa a liberdade de escolher o que ele bem desejasse como recompensa por tão notável invento.
Toda as corte esperava que Sessa fosse pedir grandes riquezas, mas ele surpreendeu a todos com o seguinte pedido:

1 grão de trigo pela primeira casa do tabuleiro;
2 grãos de trigo pela segunda casa;
4 grãos de trigo pela terceira casa;
8 grãos de trigo pela quarta casa;
16 grãos de trigo pela quinta casa;
32 grãos de trigo pela sexta casa;

E assim por diante, sempre dobrando o número de grãos da casa anterior até a casa de número 64 (o tabuleiro de xadrez tem 64 casas).

Seu pedido provocou risos.

Um invento tão brilhante e um pedido tão simples? O rei e toda corte ficaram decepcionados.

Mas palavra de rei é palavra de rei, e ele pediu a seus criados que entregassem a Sessa um punhado de grãos de trigo.

Sessa recusou a oferta dizendo que queria receber exatamente o que havia pedido. Nem um grão a mais, nem um grão a menos.
O rei pediu então para que seus calculistas fizessem as contas.
Depois de muitas contas eles encontraram o número 18.446.744.073.709.551.615 ou seja, dezoito quintilhões, quatrocentos e quarenta e seis quatrilhões, setecentos e quarenta e quatro trilhões, setenta e três bilhões, setecentos e nove milhões, quinhentos e cinqüenta e um mil e, seiscentos e quinze.

Se fôssem contar os grãos, a razão de 1 por segundo, dia e noite sem parar, gastaríam 5.850 milhões de séculos!

Como é que o rei iria cumprir sua promessa?

Que situação difícil.  Mas, também, como é que ele poderia imaginar que precisaria de séculos para produzir tudo isso?

Sessa, entendendo a aflição do monarca por não poder cumprir sua promessa perdoou a dívida. Afinal, seu objetivo havia sido atingido, ou seja, chamar a atenção do monarca para o cuidado que deveria ter com suas promessas e julgamentos.

O final não poderia ser mais feliz: Sessa foi nomeado conselheiro do rei.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Macrocosmo e Microcosmo

Se um dia você tiver a oportunidade de ir a uma praia, dessas cuja faixa de areia atinge quilômetros de extensão, abaixe-se e pegue um grãozinho qualquer de areia. Compare mentalmente o tamanho desse grãozinho que você tem entre os dedos com a imensidão da praia e os incontáveis grãos de areia que a compõem. Dizem os astrônomos que com isso você terá uma pálida idéia do que representa o nosso planeta Terra no cosmos infinito.

Este nosso planetinha, que gravita em torno de uma estrelinha de quinta grandeza, a qual chamamos de Sol, é um cisco, um grãozinho de “poeira cósmica”. Só para você ter uma idéia da pequenez do nosso planeta, saiba que ele cabe um milhão e trezentas mil vezes no mesmo espaço ocupado pelo Sol. E existem muitos bilhões de estrelas de quarta, terceira, ou segunda grandeza, nas quais o Sol cabe milhões e milhões de vezes.

Esse infinito e imensurável universo do qual fazemos parte movimenta-se segundo leis que o homem mal consegue imaginar. Na verdade, descobriu algumas poucas causas e efeitos mais afetos ao planeta Terra e aos limites alcançados pelos instrumentos astronômicos. Entretanto, a despeito da limitação humana, prevalecem leis que comandam desde o movimento d translação do nosso planeta no sistema solar até a movimentação de galáxias pelo espaço sem fim.

Apesar da nossa pequenez, não estamos fora de uma ordem que rege o sistema cósmico como um todo. Tudo tem a sua importância e a sua função. Ao que tudo indica, não existem criações inúteis no universo, tudo faz parte de um sistema integrado, funcional e perfeito.

Navegando nessa ínfima partícula cósmica chamada Terra, vamos nós, humanos tantas vezes alheios `a grandiosidade incomensurável do universo, supondo que nossos destinos microcósmicos escapam `a sabedoria e `a ordem que regem o macrocosmo. Aquilo que rege o maior rege também o menor. Do macro ao micro.

Ao nível do nosso planeta, leis perfeitas e imutáveis regem desde a regularidade de nossa órbita no sistema solar até a regularidade com que se acasalam os bichinhos na primavera. Do astro ao átomo está tudo sob controle. Parece inacreditável tudo isso, não é?

Em parte devido `a ciência, no âmbito que ela conseguiu atingir, em parte devido `as conjecturas que o raciocínio humano lança além do alcance da ciência, o inacreditável vai se desvelando ao olhar perplexo da criatura humana. A bem da verdade, o homem não está descobrindo nada de novo, mas tão somente redescobrindo o que já estava descoberto no planeta. por exemplo, a força elétrica sempre existiu na correnteza das águas, o ser humano conseguiu captá-la e direcionar sua utilização, mas não inventou a eletricidade. Essa força sempre existiu, já tinha sido descoberta, o homem apenas conseguiu redescobri-la para si.

Neste ponto, entra a questão: quem descobriu, ou melhor criou o que o homem vem redescobrindo?

Ao longo do tempo, diferentes povos em diferentes partes do globo tiveram suas peculiares concepções a respeito desse “Criador” e atribuíram-lhe os mais diferentes nomes. Na Bíblia, os povos antigos o chamavam de Jeová ou Javé. Os índios brasileiros o chamavam de Tupã. Os índios norte-americanos, de Manitô. Uma parcela da população da Índia, de Brama. Os árabes o chamam de Alá. Deus parece ser o nome mais comum dado a esse “Supremo Criador”. Seres humanos existem que nem sequer acreditam nele, dizem-se ateus.

Acreditando ou não em um “Criador”, dando-lhe nomes diferentes, ou tendo sobre ele as mais controvertidas idéias ou concepções, nada disso altera a maravilhosa ordem reinante no universo. A “Força Criadora”, ou qualquer outro nome que se lhe dê, independe das pobres crenças e concepções humanas. E não adianta entrar aqui nos emaranhados das discussões teológicas.

Se alguém acredita na existência de Deus, ótimo! Isso parece ser profundamente consolador e dá um sentimento de segurança e de proteção que os que não crêem desconhecem. Por outro lado, se alguém não acredita e sente-se bem assim, que seja cada vez mais feliz na sua descrença. É tolice tentar convencer alguém disso. Já existem muitos fanáticos religiosos tentando fazê-lo. Daí, as incontáveis divisões religiosas supondo possuírem a procuração divina para representá-lo aqui no nosso planeta. No momento, não temos intenção alguma de convencer alguém da existência ou não existência de Deus.

Falaremos de nossa existência e das forças que poderemos ir utilizando para melhorar nossa qualidade de vida pessoal. A não ser que haja algum problema de ordem psicopatológica, ninguém gosta de ser infeliz. Parece que possuímos “circuitos impressos”, fomos “programados” para buscar a felicidade e a perfeição. Cada qual a sua maneira, de acordo com seu grau de entendimento e de evolução. Se enveredarmos por caminhos errados, há uma bússola interior que no devido tempo nos reconduzirá ao caminho certo, invariavelmente.

Determinismo, isso? Talvez seja! Mas procure ser infeliz propositadamente para ver por quanto tempo você consegue!

A felicidade é nossa meta, não importa o caminho de ilusões que tomemos para atingi-la; se não for o melhor, faremos o caminho de volta e tentaremos quantas mil vezes forem necessárias. Não há pressa na eternidade do tempo. As gerações humanas se sucederam e se sucederão buscando a mesma coisa – ser feliz.

Seria bom poder afirmar que este “ser feliz” não é tão impositivo assim, mas o bom senso parece impedir de fazê-lo. Somos portadores de algumas forças instintivas que de certa forma determinam nosso modo de ser. O instinto da fome, do sexo, da sede, de ser feliz, são imposições muito evidentes para que o bom senso possa negar a força desses instintos na existência humana.

Isso não equivale a dizer que o homem é uma pobre vitima de seus próprios instintos. Existe uma consciência que comanda e orienta a satisfação adequada das necessidades geradas pelas forças instintivas, só que não podemos deixar de atender a tais necessidades. Também não equivale a dizer que a satisfação da necessidade de “ser feliz” seja do mesmo nível da satisfação das necessidades fisiológicas (sede, fome, sono, etc.). Não obstante, a busca da felicidade é tão instintiva e imperiosa quanto a busca da satisfação de outras necessidades humanas.

Sendo assim, o minúsculo universo, ou microcosmo composto por cada vida humana é também regido por leis que exercem sua “força” inexoravelmente.

Diríamos até que o homem, apesar da ordem que rege o universo global, possui o seu grau de livre-arbítrio, poder de decisão ou condução do próprio destino. Mas é semelhante ao livre-arbítrio do peixe. Pode subir ou descer a corrente do rio; pode ir `a superfície ou até a profundeza da água, pode nadar, comer, reproduzir no meio ou nas margens do rio e pode todas as possibilidades que o ser peixe proporciona, mas não pode sair fora d’água.
Prof.Carlos França

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O Iniciado

O iniciado é aquele que possui a lâmpada de Trimegistro, o manto de Apolônio e o bastão dos patriarcas. A lâmpada de Trimegistro é a razão esclarecida pela inteligência; o manto de Apolônio é a posse plena e total de si mesmo, que isola o sábio das correntes instintivas; e o bastão dos patriarcas é o auxílio das forças ocultas e perpétuas da natureza .
A lâmpada de Trimegistro alumia o presente, o passado e o futuro, mostra claramente a consciência dos homens, ilumina os recônditos do coração das mulheres. A lâmpada brilha com tríplice chama, o manto se redobra três vêzes, e o bastão se divide em três partes.

O número nove é o dos reflexos divinos: êle exprime a idéia divina em toda a sua fôrça abstrata, mas também exprime o luxo na crença e, por conseguinte, a supertição e a idolatria. É por isso que Hermes fêz dêle o número da iniciação, porque o iniciado reina sôbre a supertição e pela supertição, e só êle pode caminhar nas trevas, apoiado como está no seu bastão, envolto no seu manto e iluminado pela sua lâmpada.

A razão foi dada a todos os homens, mas nem todos sabem fazer uso dela; é uma ciência que é preciso aprender. A liberdade é oferecida a todos, mas nem todos sabem apoiar-se nela; é um poder de que é preciso apoderar-se.
A nada chegamos que não nos custe mais de um esforço. O destino do homem é que se enriqueça do que ganha e que depois tenha, como Deus, a glória e o prazer de dar.

A ciência mágica se chamava, outrora, arte sacerdotal e arte real, porque a iniciação dava ao sábio o império sôbre as almas e a aptidão para governar as vontades.

A adivinhação é também um dos privilégios do iniciado; ora, a adivinhação é simplismente o conhecimento dos efeitos contidos nas causas e a ciência aplicada aos fatos do dogma universal da analogia. Os atos humanos não se escrevem somente na luz astral; deixam também os seus traços na fronte, modificam as feições e o andar, mudam o acento da voz. Cada homem traz, pois, consigo a história da sua vida, legível para o iniciado. Ora, o futuro é sempre a conseguência do passado, e as circunstâncias inesperadas não mudam quase nada dos resultados racionalmente esperados.

É possível, pois, predizer a cada homem o seu destino. É possível julgar de uma existência inteira por um só movimento; um só desacêrto pressagia uma série de desgraças. Cesar foi assassinado porque amava as poesias de Ossian; Luiz Filipe devia deixar o trono como fêz, porque usava um guarda-chuva. São paradoxos para o vulgo, que não compreende as relações ocultas das coisas; mas são razões para o iniciado, que compreende tudo e de nada admira.

A iniciação preserva das falsas luzes do misticismo; ela dá `a razão humana o seu valor relativo e a sua infalibilidade proporcional, unindo-a `a razão suprema pela cadeia das analogias. O iniciado não tem, pois, esperanças duvidosas, nem temores absurdos, porque não tem crenças desarrazoáveis; sabe o que pode e nada lhe custa ousar. Por isso, para ele, ousar é poder.

Eis, pois, uma nova interpretação dos atributos do iniciado; a sua lâmpada representa o saber, o seu manto que o envolve representa a sua discrição, o seu bastão é o emblema da sua força e da sua audácia. Ele sabe, ousa e cala-se. Sabe os segredos do futuro, ousa no presente e cala-se sobre o passado. Sabe das fraquezas do coração humano, ousa servir-se delas para fazer a sua obra, e cala-se sobre os seus projetos. Sabe a razão de todos os simbolismos e de todos os cultos, ousa praticá-los ou abster-se deles sem hipocrisia e sem impiedade, e cala-se sobre o dogma único da alta iniciação.
Sabe a existência e a natureza do grande agente mágico, ousa fazer os atos e pronunciar as palavras que o submetem `a vontade humana, e cala-se sobre os mistérios do grande arcano.

Por isso, podeis ve-lo muitas vezes triste, nunca abatido nem desesperado; muitas vezes perseguido, nunca abandonado nem vencido. Ele se lembra muitas vezes da viuvez e do assassinato de Orfeu, do exílio e da morte solitária de Moisés, do martírio dos profetas, das torturas de Apolônio, da cruz do Salvador; sabe em que abandono morreu Agripa, cuja memória ainda é caluniada; sabe a que fadigas sucumbiu o grande Paracelso, e tudo o que teve de sofrer Raimundo Lullo para, enfim, chegar a u'a morte sanguinolenta. Lembra-se de Swedenborg fazendo-se de louco ou mesmo perdendo a razão, a fim de fazer perdoar a sua ciência; de Saint-Martin, que se ocultou toda a sua vida; de Cagliostro, que morreu abandonado nos calabouços da Inquisição; de Cazotte, que subiu ao cadafalso.

Sucessor de tantas vítimas, não ousa menos, mas compreende ainda mais a necessidade de calar-se. Imitemos o seu exemplo, aprendamos com perseverança; quando soubermos, ousemos e calemo-nos.