segunda-feira, 21 de março de 2011

Foi a Abadessa


Ninguém sabe como foi mas todos concordam que foi a abadessa. 
O preboste mandou instaurar um inquérito e o condestável ordenou que os arautos percorressem os caminhos anunciando que fora a abadessa. 
E o povo tremeu, ouvindo que fora a abadessa. 
Grandes flagelos, grandes angústias e penas desabariam sobre a cabeça do rei e do povo. Nada se podia fazer: a abadessa já havia feito. 
O arcipreste suspeitou do outro lado da notícia e baixou a bula cobrindo de opróbrio os verdugos que levassem a abadessa ao catafalco. 
Mas o esmoler-mor contestou o condestável e exigiu que em nome da fé e do rei a verdade fosse feita. Contestado, o condestável mobilizou seus arqueiros e concitou o capelão a distribuir pão aos filhos do povo e aos camponeses famintos que se levantaram contra a abadessa e contra a coisa que ela havia feito. 
Mais complicada ficou a situação quando o preboste envenenou o arcediago e o arcipreste caiu fulminado quando soube que a abadessa fugira em cima de um corcel de crinas ao vento. 
Os camponeses então resolveram voltar para suas terras, pois não valia a pena matar ou morrer por causa da coisa que a abadessa tinha ou não tinha feito. 
Ante a iminência do saque às cidades, o esmoler-mor ordenou que se queimassem as feiticeiras e numa só noite foram devoradas pelo fogo nada menos de 567 feiticeiras de diversos e criminosos feitios e malefícios.
Os arautos percorreram novamente as cidades famintas e os campos devastados distribuindo hinos de louvor ao rei e à paz que voltava ao reino depois que a abadessa fizera a coisa. 
E estavam as coisas nesse pé – inclusive a coisa que a abadessa havia feito – quando, alta noite, surgiu no palácio, vinda dos campos, a assombrosa notícia de que não fora a abadessa que fizera a coisa pois coisa nenhuma havia sido feita. 
Reza a lenda que a abadessa, depois de muito cavalgar no seu corcel de crinas ao vento, em sabendo que não havia feito a coisa, resolveu fazê-la.
Carlos Heitor Cony

quinta-feira, 17 de março de 2011

Por fora de Xanás



Todo dito popular funciona e ficaria o dito pelo não dito se os ditos ditos não funcionassem, dito o que, acrescento que há um dito que não funciona ou, melhor dito, é um dito que funciona em parte uma vez que, no setor da ignorância, o dito falha, talvez para confirmar outro velho dito, o do: não-há-regra-sem-exceção. Digo melhor, o dito:
mal-de-muitos-consolo-é, encerra muita verdade, mas falha quando notamos que ignorância é o que não falta pela aí e, no entanto, ninguém gosta de confessar sua ignorância. Logo, pelo menos aí, o dito dito falha.

Tenho experiência pessoal quanto à má-vontade do próximo para com a própria ignorância, má-vontade esta confirmada diversas vezes em poucos minutos, graças a uma historinha vivida ao lado do escritor Álvaro Moreira, num dia em que fomos almoçar juntos, na cidade. Já não me lembro qual o motivo do almoço. Lembro-me, isto sim, que íamos caminhando, quando Alvinho disse, em voz alta:

— Leônio Xanás.

— O quê? — perguntei, e Alvinho explicou que Leônio Xanás era o nome do pintor que estava pintando seu apartamento. Até me mostrou um cartãozinho, escrito "Leônio Xanás 

— Pinturas em Geral — Peça Orçamento".

— Hoje acordei com o nome dele na cabeça. A toda hora digo Leônio Xanás — contava o escritor. — Ainda agorinha, ao entrar no lotação, disse alto "Leônio Xanás" e levei um susto, quando o motorista respondeu: "Passa perto". Ele pensou que eu estava perguntando por determinada rua e foi logo dizendo que passa perto, sem, ao menos, saber que rua era.

Foi aí que nos nasceu a vontade de experimentar a sinceridade do próximo e nos nasceu a certeza de que ninguém gosta de confessar-se ignorante mesmo em relação às coisas mais corriqueiras. Entramos numa farmácia para comprar Alka-Seltzer (pretendíamos tomar vinho no almoço) e Alvinho experimentou de novo, perguntando ao farmacêutico:

— Tem Leônio Xanás?

— Estamos em falta — foi a resposta.
Saímos da farmácia e fomos ao prédio onde tem escritório o editor do Alvinho. No elevador, nova experiência. Desta vez quem perguntou fui eu, dirigindo-me ao cabineiro do elevador:

— Em que andar é o consultório do Dr. Leônio Xanás?

— Ele é médico de quê?

— Das vias urinárias — apressou-se a mentir o amigo, ante a minha titubeada.

Então é no sexto andar — garantiu o cara do elevador, sem o menor remorso. E se não tivéssemos saltado no quarto andar por conta própria, teria nos deixado no sexto a procurar um consultório que não existe.

E assim foi a coisa. Ninguém foi capaz de dizer que não conhecia nenhum Leônio Xanás ou que não sabia o que era Leônio Xanás. Nem mesmo a gerente de uma loja de roupas, que — geralmente — são senhoras de comprovada gentileza. Entramos num elegante magazine do centro da cidade para comprar um lenço de seda para presente. Vimos vários todos bacanérrimos, mas — para continuar a pesquisa — indagamos da vendedora:

— Não tem nenhum da marca Leônio Xanás?

A mocinha pediu que esperássemos um momento, foi até lá dentro e voltou com a prestativa senhora gerente. Esta sorriu e quis saber qual era mesmo a marca:

— Leônio Xanás — repeti, com esta impressionante cara-de-pau que Deus me deu.

Madame voltou a sorrir e respondeu: — Tínhamos, sim, senhor. Mas acabou. Estamos esperando nova remessa.

Foi uma pena não ter. Compramos de outra marca qualquer e fomos almoçar. Foi um almoço simpático com o velho amigo. Lembro-me que, na hora do vinho, quando o garçom trouxe a carta, Alvinho deu uma olhadela e disse, em tom resoluto:

— Queremos uma garrafa de Leônio Xanás tinto.

O garçom fez uma mesura: — O senhor vai me perdoar, doutor. Mas eu não aconselho esse vinho.
Devia ser uma questão de safra, daí aconselhar outro: — O Ferreirinha não serve?
Servia.

É irmãos, mal de muitos consolo é, mas ignorante que existe às pampas, ninguém quer ser.
Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

Verdadeira Alquimia

Certa vez um andarilho apareceu numa aldeia da Idade Média. Dirigiu-se à praça central da cidade, anunciou-se como alquimista e disse que ensinaria como transformar qualquer tipo de metal em ouro. Algumas pessoas pararam para ouví-lo e começaram a proferir gracejos e ridicularizá-lo. O estranho não se abalou com as chacotas, pediu um pedaço de metal e alguém lhe entregou uma ferradura, um outro lhe ofereceu um prego. O alquimista então pegou ambas as peças, e ainda sob as risadas dos incrédulos, colocou-as numa pequena vasilha e derramou sobre elas o conteúdo de um frasco que havia retirado de sua sacola. Permaneceu alguns segundos em silêncio e o fenômeno aconteceu: a ferradura e o prego tornaram-se dourados.

Uma sensação de espanto percorreu a multidão que se avolumava cada vez mais na praça. O alquimista levantou as peças de ouro para que todos pudessem admirar a transmutação. Um ourives presente no local pediu para examinar os objetos e foi atendido. Em pouco tempo, revelou serem as peças de ouro puríssimo como nunca tinha visto. As pessoas agitaram-se e agora queriam ouvir. O alquimista então pegou um grosso livro de sua sacola e disse estar nele o segredo da transmutação dos metais em ouro. Em seguida, entregou o livro a uma criança próxima e partiu tranqüilo. Ninguém o viu ir embora, pois todos os olhos mantiveram-se fixos no objeto nas mãos da criança.

Poucos dias depois, a maioria das pessoas possuía uma cópia do valioso manuscrito, assim a receita para produzir ouro passou a ser conhecida por todos. Contudo, a fórmula era complexa. Exigia água destilada mil vezes no silêncio da madrugada e ingredientes que deveriam ser colhidos em noites especiais e em praias distantes. Era muito penoso ficar mil noites em silêncio esperando a água destilar. Além disso, procurar os outros ingredientes era muito cansativo.

No início todos puseram as mãos à obra, mas com o passar do tempo, as pessoas foram desistindo do trabalho. Diziam que a fórmula era apenas uma galhofa deixada pelo alquimista para mostrar como eram tolos. As pessoas foram desistindo. E, à medida que desistiam, tentavam convencer os outros a fazerem o mesmo. Assim, muitos e muitos outros, influenciados pelos primeiros, também desistiram. Mas, um pequeno grupo prosseguiu com o trabalho. Apesar de ridicularizados pelo resto da aldeia, continuaram destilando a água e fizeram várias viagens juntos à procura dos ingredientes da fórmula.

O tempo correu e a quantidade de histórias divertidas, de situações que eles passaram juntos, de mudanças pessoais de cada um desde que começaram a seguir a fórmula, cresceu. E o grupo dos aprendizes de alquimia tornou-se cada vez mais unido. Converteram-se em grandes amigos. Até que em um mesmo dia, todos que tinham começado juntos, viraram a última página das instruções do livro, e lá estava escrito:

“Se todas as instruções foram seguidas, você tem agora o líquido que, derramado sobre qualquer metal, transforma-o em ouro. Entretanto, agora você já percebeu que a maior riqueza não está no produto final obtido, mas sim no caminho percorrido. O que nos torna infinitamente ricos não é a quantidade de ouro que conseguimos produzir, mas as conquistas que obtivemos em busca do tesouro: o conhecimento das riquezas como o amor, a amizade, a paciência, o perdão, a persistência, o valor dos sacrifícios feitos nessa busca. A transformação interior obtida: esta é a verdadeira alquimia".

domingo, 13 de março de 2011

Fênix


O mais belo de todos os animais fabulosos, simbolizava a esperança e a continuidade da vida após a morte. Possuía uma voz melodiosa que se tornava triste quando a morte se aproximava.  A impressão que a sua beleza e tristeza causava em outros animais, chegava a provocar a morte deles.  


Segundo a lenda, apenas uma fênix podia viver de cada vez.  Hesíodo, poeta grego do século VIII a.C., afirmou que esta ave vivia nove vezes o tempo de existência do corvo, que tem uma longa vida. 

Na sua plumagem, brilhavam as cinco cores sagradas. Roxo, Azul, Vermelha, Branco e Dourado. Quando a ave sentia a morte aproximar-se, construía uma pira de ramos de canela, sálvia e mirra em cujas chamas morria queimada. Mas das cinzas erguia-se então uma nova fênix. A crença na ave lendária que renasce das próprias cinzas existiu em vários povos da antiguidade como gregos, egípcios e chineses.  Em todas as mitologias o significado é preservado: a perpetuação, a ressurreição, a esperança que nunca têm fim.

Há um paralelo da fênix com o Sol, que morre todos os dias no horizonte para renascer no dia seguinte, tornando-se o eterno símbolo da morte e do renascimento da natureza.

Ofendendo-se

As pessoas maduras não se abalam por causa de comentários indelicados de outras pessoas. De vez em quando as pessoas dizem coisas para nos testar e fazem comentários do tipo: “você não trabalha duro!” ou “você come demais!” ou ainda “todo mundo sabe que você casou com ele por dinheiro!”. Às vezes, essas coisas são ditas por inveja, mas com freqüência, são ditas para provocar uma reação. Qualquer que seja o motivo, a melhor maneira de lidar com isso é sorrir e, ou não dizer nada, ou concordar com a pessoa.

Assim sendo, da próxima vez que seu vizinho o vir em seu carro novo e disser: “você não trabalha quase nada e, ainda assim, eles lhe pagam uma fortuna!”, simplesmente sorria e responda: “não é maravilhoso?”. Você não tem de explicar nada sobre suas responsabilidades e sobre o tempo que fica “ralando” no trabalho. Não precisa justificar. Apenas sorria e deixe isso para lá.

Quando a sua cunhada observar coisas do tipo: “você está sempre tirando férias!”, concorde com ela. Diga: “sim, adoro tirar férias!”. Se o seu primo disser: “puxa, você deve ter gasto uma nota nessa piscina”, sorria e fale: “pode apostar que sim. É que detesto piscinas baratas”!

Não se deixe perturbar. Você não vai ganhar nada discutindo com seu primo, sua cunhada, seu vizinho ou com quem quer que seja. Quando encontrar com pessoas assim, concorde com elas de uma maneira gentilmente natural. Se você começar a tentar se defender, estará frito.

Em poucas palavras: somente pessoas que “pensam pequeno” fazem comentários desagradáveis; e somente pessoas que também “pensam pequeno” se ofendem. Seja alguém que “pensa grande”.
Andrew Matthews

sexta-feira, 11 de março de 2011

Meu Filho Entra no Mundo

Agora, meu filho, você já é um rapagão de dezoito anos, charmoso, inteligente e emancipado, com convicções e vontade próprias. Ficou para trás a fase ingrata das transformações da adolescência, dando lugar à fase das grandes especulações e questionamentos. As portas do mundo se abrem para recebê-lo.

Diante de si, espraia-se uma Universidade chamada "Mundo"; cheia de seduções e ofertas. Procure entrar nesta concorrida Universidade, enfrentando-a como um celeiro de oportunidades e não como um campo de guerra minado pelas confusões, discórdias e invejas. As oportunidades são capciosas. É preciso você, nessa alvorada da existência, saber discernir entre o que dará e não dará bons frutos. E de que modo você vai direcionar seu futuro.

Não pense em glórias miríficas. Firme um objetivo e o persiga. Finque profundamente seus alicerces morais para não ser arrastado pelo vendaval do imediatismo e do arrependimento. Defina, claramente, que contribuições poderá dar ao mundo, através das ferramentas que possui: inteligência, talento, determinação e sonhos que acalenta no seu coração. Já é hora de pensar no futuro. E o futuro quem constrói é você, com indômita força de vontade para ir além do horizonte. Vencer desafios. Nunca desanimar! Só você tem tudo para ser um grande homem. Ponha isto na cabeça: ninguém fará de você um homem especial. Só você mesmo conseguirá. Por isto, abrace o mundo com juízo e confiança da vitória.

Comece fortalecendo seu espírito com propósitos de ser o melhor do quer que você seja. A vida pagará um vantajoso prêmio. Mas, é preciso lutar por ele. Não se deixe enganar pela glória fácil. O caminho para o sucesso e a felicidade é íngreme e nem sempre rápido. É preciso armar-se de toda competência possível para ultrapassar a linha da mediocridade. Nunca permita que parentes e amigos se metam na escolha de sua vocação. A vocação parece uma simples companheira de viagem. Mas, na verdade, ela é a meta que lhe garantirá sucesso e independência financeira. Objetivos que devem nortear a vida de qualquer jovem inteligente, que pensa no dia de amanhã com os pés no chão. Com a vontade pétrea de chegar em primeiro lugar. Não há vencedores de segundos lugares.

A escolha da profissão vocacionada é tarefa intransferível e pessoal. Comece cedo a familiarizar-se com as oportunidades que o mercado oferece na sua constante ânsia de contratar funcionários competentes, idealistas e empreendedores. Como proceder? Com sua percepção de enfrentar e conquistar um mundo competitivo e sair dele na glória do pódio número um. Não é tarefa impossível desde que você se disponha a ser bom em todos os sentidos.

Como filho, amigo, estudante, esposo, pai e, sobretudo, como excepcional profissional. Você está entrando num mundo que necessita constantemente de pessoas competentes, comprometidas e destemidas a desafiar sua própria capacidade de progredir e ir longe. Isto parece impossível. Mas não é. Desde que você priorize você mesmo, antes dos atrativos que a tecnologia coloca à disposição para desviar os jovens do seu ideal. Primeiro suba no pódio para depois festejar a vitória. Primeiro mostre o que fez para depois dizer ao mundo o que fez. Abstraia-se dos vícios, das procrastinações, dos “vamos deixar para depois”, dos amigos que possam induzi-lo ao fracasso dos seus propósitos para o futuro. O futuro decente, próspero e progressista deverá ser meta de qualquer pessoa sensata durante toda vida. E o seu futuro começou quando você nasceu.

Como jovem você ainda não domina os limites do sucesso. Portanto, nunca se deixe dominar pelas vantagens oferecidas por pessoas especialistas em desencaminhar os jovens dos seus primordiais objetivos. A dedução lógica indica que o que mais lhe interessa neste momento é aproveitar as orgias da juventude, disponíveis nas discotecas, nos bares, nas baladas e nas companhias de colegas de condutas duvidosas. Não se deixe levar pela mentira do embriagador desejo de sucesso fácil. Aprenda a sorrir e a chorar quando houver necessidade. Planeje, meu filho, com grande discernimento aonde deseja chegar. E lute por isso com bravura e consciência de que o tempo é curto. Nunca se descuide dele, que passa rápido e não retrocede. Procure ter certeza de que a profissão que você escolheu o fará feliz. Estude-a, compare com as outras e, de que forma ela lhe dará o primeiro lugar na busca do seu espaço profissional. O casamento é ótimo. Mas priorize antes dele seu sucesso profissional.

Analise se você deseja ser cientista, astronauta, empresário, religioso, professor, médico ou se deseja passar a vida toda catando borboletas nos jardins alheios. Entenda que as portas do mundo serão largas para os que souberam preparar a estrada que lhe dá acesso. A apoteose da vida está na glória de vencer os obstáculos, com nervos de aço. Jamais permita que sua vida seja um peregrinar sem rumo. Dê-lhe vibração, fulgor, energia e impetuosidade. Quando a fama chegar, mantenha-se humilde e agradecido a Deus.


E que lá na frente, bem lá na frente, você um dia possa refletir e balbuciar baixinho só para seu coração ouvir: "Meu pai tinha razão!" Desejo-lhe sucesso com as bênçãos de Deus. Seu pai.
Autor Desconhecido

quarta-feira, 9 de março de 2011

Os filhos que estamos criando


Um jovem de nível acadêmico excelente, candidatou-se à posição de gerente de uma grande empresa.
Passou a primeira entrevista e o diretor fez a última entrevista e tomou a última decisão.
O diretor descobriu através do currículo que as suas realizações acadêmicas eram excelentes em todo o percurso, desde o secundário até à pesquisa da pós-graduação e não havia um ano em que não tivesse pontuado com nota máxima.
O diretor perguntou: “Tiveste alguma bolsa na escola?” O jovem respondeu: “nenhuma”.
O diretor perguntou: “Foi o teu pai que pagou as tuas mensalidades?” O jovem respondeu: “O meu pai faleceu quando tinha apenas um ano, foi a minha mãe quem pagou as minhas mensalidades.”
O diretor perguntou: “Onde trabalha a tua mãe?” E o jovem respondeu: “A minha mãe lava roupa.”
O diretor pediu que o jovem lhe mostrasse as suas mãos. O jovem mostrou um par de mãos macias e perfeitas.
O diretor perguntou: “Alguma vez ajudaste a tua mãe a lavar as roupas?” O jovem respondeu: “Nunca, a minha mãe sempre quis que eu estudasse e lesse mais livros. Além disso, a minha mãe lava a roupa mais depressa do que eu.”O diretor disse: “Eu tenho um pedido. Hoje, quando voltares, vais e limpas as mãos da tua mãe, e depois vens ver-me amanhã de manhã.”
O jovem sentiu que a hipótese de obter o emprego era alta. Quando chegou a casa, pediu feliz à mãe que o deixasse limpar as suas mãos. A mãe achou estranho, estava feliz mas com um misto de sentimentos e mostrou as suas mãos ao filho.
O jovem limpou lentamente as mãos da mãe.
Uma lágrima escorreu-lhe enquanto o fazia. Era a primeira vez que reparava que as mãos da mãe estavam muito enrugadas, e havia demasiadas contusões nas suas mãos. Algumas eram tão dolorosas que a mãe se queixava quando limpas com água.
Esta era a primeira vez que o jovem percebia que este par de mãos que lavavam roupa todo o dia tinham-lhe pago as mensalidades. As contusões nas mãos da mãe eram o preço a pagar pela sua graduação, excelência acadêmica e o seu futuro.
Após acabar de limpar as mãos da mãe, o jovem silenciosamente lavou as restantes roupas pela sua mãe. Nessa noite, mãe e filho falaram por um longo tempo.
Na manhã seguinte, o jovem foi ao gabinete do diretor.
O diretor percebeu as lágrimas nos olhos do jovem e perguntou: “Diz-me, o que fizeste e aprendeste ontem em tua casa?”
O jovem respondeu: “Eu limpei as mãos da minha mãe, e ainda acabei de lavar as roupas que sobraram.”
O diretor pediu, “Por favor diz-me o que sentiste.”
O jovem disse: “Primeiro, agora sei o que é dar valor. Sem a minha mãe, não haveria um eu com sucesso hoje. Segundo, ao trabalhar e ajudar a minha mãe, só agora percebi a dificuldade e dureza que é ter algo pronto. Em terceiro, agora aprecio a importância e valor de uma relação familiar.”
O diretor disse: “Isto é o que eu procuro para um gerente. Eu quero recrutar alguém que saiba apreciar a ajuda dos outros, uma pessoa que conheça o sofrimento dos outros para terem as coisas feitas, e uma pessoa que não coloque o dinheiro como o seu único objetivo na vida. Estás contratado.”
Mais tarde, este jovem trabalhou arduamente e recebeu o respeito dos seus subordinados. Todos os empregados trabalhavam diligentemente e como equipe.
O desempenho da empresa melhorou tremendamente.
Uma criança que foi protegida e teve habitualmente tudo o que quis, vai desenvolver- se mentalmente e vai sempre colocar-se em primeiro. Vai ignorar os esforços dos seus pais, e quando começar a trabalhar, vai assumir que toda a gente o deve ouvir e quando se tornar gerente, nunca vai saber o sofrimento dos seus empregados e vais sempre culpar os outros.
Para este tipo de pessoas, que podem ser boas academicamente, podem ser bem sucedidas por um bocado, mas eventualmente não vão sentir a sensação de objetivo atingido. Vão resmungar, estar cheios de ódio e lutar por mais. Se somos este tipo de pais, estamos realmente a mostrar amor ou estamos a destruir o nosso filho?
Pode deixar o seu filho viver numa grande casa, comer boas refeições, aprender piano e ver televisão num grande plasma. Mas quando cortar a relva, por favor deixe-o experienciar isso. Depois da refeição, deixe-o lavar o seu prato juntamente com os seus irmãos e irmãs. Isto não é porque não tem dinheiro para contratar uma empregada, mas porque o quer amar como deve de ser. Quer que ele entenda que não interessa o quão ricos os seus pais são, um dia ele vai envelhecer, tal como a mãe daquele jovem.
A coisa mais importante que os seus filhos devem entender é a apreciar o esforço e experiência da dificuldade e aprendizagem da habilidade de trabalhar com os outros para fazer as coisas.

Quais são as pessoas com mãos enrugadas por mim?
Fonte: http://www.r2cpress.com.br

terça-feira, 8 de março de 2011

Dos dez para os doze



O Rei Tajuã, do Iêmen, senhor de cento e oitenta mil tamareiras, tinha um vizir chamado Calin-Beg, que era excessivamente gordo e digamos, sem receio da verdade, excessivamente mau.

A gordura espantosa do tal ministro podia ser pesada facilmente em arrobas numa grande balança de ferro: impossível seria, entretanto, calcular a soma das maldades que negrejavam seu coração.

Um dia, ao terminar a audiência costumeira, o maldoso Calin-Beg, com voz grave e solene assim falou ao poderoso sultão:

- Os judeus, senhor, constituem uma raça detestável. O ouro obtido pelo trabalho penoso de nossas mãos vai cair finalmente em poder deles. São infiéis incorrigíveis e a todo instante proferem blasfêmias contra os preceitos mais puros e elevados da nossa religião. Penso que devemos expulsá-los o mais depressa possível do nosso país e venho pedir-vos para isso a necessária autorização.

O rei Tajuã, tolerante e bondoso, não ocultava a sua simpatia pelos judeus que viviam em seus domínios. Não via, aliás, razão alguma para repelir e martirizar um povo que não perturbava a paz de suas cento e oitenta mil palmeiras e, ao contrário, contribuía de algum modo para o progresso de seu reino. Disse pois ao seu odiento vizir:

- Uma vez que julgas medida útil ao bem-estar de meus súditos eu não hesitaria em decretar, de momento, a expulsão de todos os israelitas. Como medida preliminar desejo, entretanto, observar como vivem e trabalham os judeus. Vamos, meu amigo, dar ligeiro passeio pelos arredores da cidade.

Acudiu pressuroso o ministro:

- Julgo interessante a vossa lembrança, ó rei! Tereis ocasião de ver durante a nossa excursão que os judeus vivem como chacais imundos, praguejando, cheios de ódio contra os servos de Allah (exaltado seja o Altíssimo!).

Momentos depois o rei Teijuã, acompanhado do seu primeiro ministro, saía a passear pelos bairros mais pobres da cidade, observando atentamente os míseros casebres em que viviam os israelitas.
Em dado momento aproximou-se o soberano de um pobre tecelão que trabalhava sentado à soleira da porta e disse-lhe em tom amistoso:

- Por Allah, meu amigo! Vejo-o a trabalhar incessantemente. ‘Dos dez já tira você para os doze?’

Respondeu o tecelão, esboçando um sorriso muito triste:

- Ahl Senhor! Eu dos dez não tiro nem para ‘os trinta e dois!’

Ao ministro, que tudo ouvia com a maior atenção, causou não pequeno espanto aquele estranho diálogo.

O rei Tajuã, entretanto, parecendo não se contentar com a resposta do pobre judeu, interrogou-o novamente:

- E quantos são para você os ‘trinta e dois de cada dia?’

- Quatro, ‘com dois incêndios’ - tornou o outro.

Sorriu o rei ao ouvir essa resposta, cujo sentido a inteligência do vizir não soube penetrar, e insistiu com bondade:

- Se esperas algum incêndio para breve, por que ‘não depenas logo o pato?’ Com as penas poderás ‘apagar o fogo’.

Retorquiu o tecelão:

- Assim espero, senhor. Com a ajuda de Deus em breve depenarei o pato.

Ao regressar ao palácio, o rei observou muito sério ao vizir:

- Estou certo, meu amigo, que compreendeste perfeitamente a conversa que tive há pouco com aquele pobre judeu.

- Infelizmente, senhor, confessou constrangido o ministro - ouvi as vossas perguntas e todas as respostas do israelitas, sem nada entender!

- Pela glória do Profeta! - cortou o rei, - a declaração que acaba de fazer é humilhante para um vizir! Não posso tolerar semelhante fraqueza! Vou conceder-te o prazo de três dias para descobrires a significação perfeita das minhas perguntas e explicares claramente todas as respostas dadas pelo judeu. Se não o conseguires serás demitido, por incapacidade, do cargo de vizir.

O odiento ministro, esmagado pela terrível ameaça do rei, procurou por todos os meios a decifração do mistério.
As perguntas do rei não tinham realmente sentido algum. A primeira era obscura charada:

- "Dos dez já tira você para os doze?"

E a resposta, logo a seguir dada pelo judeu? Não passava, afinal, de um verdadeiro disparate:

- "Dos doze, senhor, eu não tiro nem para os trinta e dois!"

A segunda indagação do rei parecia traduzir completo absurdo:

- "E quanto são para você os trinta e dois de cada dia?"

Eis a enigmática resposta formulada pelo israelita:

- "Quatro com dois incêndios!"

Havia ainda, como complemento diabólico, a terceira pergunta do soberano:

- "Se esperas incêndio para breve, por que não depenas logo o pato? ‘Com as penas poderás apagar o fogo’."

Convenceu-se o rancoroso vizir de que a sua pobre e acanhada inteligência não dispunha de recursos para deslindar o segredo que envolvia o estranho diálogo travado entre o rei e o israelita.
Consultou às ocultas seus amigos mais atilados, mas nenhum deles soube achar uma explicação para o caso. Recorreu aos ulemás que viviam entre livros e manuscritos, e os sábios, depois de largas divagações filosóficas, declararam-se incapazes de esclarecer o mistério.

Que fazer?

Preocupado com a grave ameaça que lhe pesava sobre os ombros, resolveu enfim procurar a única pessoa que poderia auxiliá-lo naquela dependura.
Foi, pois, sem mais hesitar, à casa do tecelão judeu.

Interrogado pelo vizir, respondeu o velho israelita:

- Sinto dizer-vos, senhor, que sou pobre e luto para viver modestamente. Não posso perder, portanto, as boas oportunidades que se me oferecem para melhorar a triste condição de penúria em que me encontro. Exijo, pois, o pagamento de cem dinares pela explicação da primeira pergunta.

O ministro Calin-Beg tirou imediatamente da sua bolsa a quantia pedida e entregou-a ao judeu:

- A primeira pergunta, ó vizir! - começou o israelita - é muito simples. O nosso bom soberano queria saber "se dos dez eu tirava para os doze", isto é, se com os dez dedos da mão eu ganhava o suficiente para viver durante os doze meses do ano. Respondi-lhe então (essa é a verdade) que "dos dez eu não tirava nem para os trinta e dois", isto é, para os trinta e dois dentes da minha boca, ou melhor, com os dez dedos da mão eu não chegava a obter o indispensável para a minha alimentação!

- Realmente! - exclamou radiante o ministro, - muito racional e clara tua explicação. Compreendi tudo perfeitamente. E a segunda parte - ó filho de Israel! - que sentido tem?

- Para a explicação da segunda parte desse enigma - impôs o tecelão - quero receber um prêmio de duzentos dinares.

Satisfeito imediatamente, o judeu depois de guardar o dinheiro assim falou:

- Quando o nosso glorioso soberano me interpelou daquela forma: "E quantos são para você os trinta e dois de cada dia?”, compreendi que ele queria saber o número de pessoas mantidas por mim, isto é, “quantos são os trinta e dois (dentes) a que dou de comer a cada dia”. A minha resposta é clara e evidente: "Quatro, com dois incêndios". As quatro pessoas são: minha mulher e três filhos. "Com dois incêndios" significa - com duas filhas para casar.

- Pois o casamento de uma filha acarreta para nós judeus tanta despesa, tantos transtornos e aborrecimentos, que pode ser comparado a um verdadeiro incêndio. Com a minha resposta, clara e precisa, informei o rei sobre o número de pessoas da minha família, indicando até o número exato de filhas que pretendo casar.

- É curioso! - refletiu o vizir - Sinto agora que o enigma não tem realmente dificuldade alguma. E a última pergunta? Como poderei interpretá-la?

Para decifrar a terceira e última pergunta o judeu, alegando maior dificuldade e embaraço, exigiu o pagamento de quinhentos dinares.
Logo que se viu de posse do dinheiro o astucioso israelita explicou:

- A última pergunta formulada pelo glorioso soberano tem um sentido muito claro: se espera incêndio em sua casa, por que não “depena o pato?”, isto é, "se precisa de recursos para casar sua filha, por que não toma o dinheiro de um tolo qualquer?". “Pato”, como ninguém ignora, é o indivíduo pouco inteligente, do qual podemos tomar sem dificuldade quantia por vezes avultada.

- Tendo compreendido o sentido exato das palavras do rei, respondi que “ainda tinha, com a ajuda de Deus, esperança de depenar o pato”, isto é, de arranjar com um lorpa qualquer o dinheiro necessário. E foi precisamente o que aconteceu, senhor ministro. Com o dinheiro que acabo de receber de vossas mãos generosas poderei custear o próximo casamento de minha filha mais velha!

Retirou-se envergonhado e furioso o vizir, mais furioso do que envergonhado, ao perceber que, no fim de contas, ele fizera o papel ridículo de ‘pato’, isto é, de idiota!

Ao chegar ao palácio foi ter à presença do monarca e declarou que estava pronto a explicar o sentido de todas as enigmáticas perguntas.
Sorriu o rei do Iêmen ao ouvir aquela confissão de seu maldoso secretário, e lhe disse:



- E ainda pretendes, ó vizir, expulsar de nosso país um povo tão vivo e inteligente? Acabaste de receber a prova eloqüente de que um simples e inculto remendão judeu é capaz de reduzir ao mísero papel de "pato" o vizir mais atilado do mundo.
Malba Tahan